Artigo assinado por Priscilla Fenics
Por ocasião do Dia do Profissional de Mídia (21), celebramos estratégias que possuem um papel crucial nas organizações e que, acima de tudo, são escolhas: decisões que contribuem diretamente com a construção de narrativas plurais, afetivas e politicamente comprometidas.
Neste contexto, instituições como o Conselho Internacional de Museus (Icom) e o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) têm se reposicionado em relação ao papel dos museus frente às urgências sociais, políticas, ambientais e de identidade. O Museu das Favelas, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas de São Paulo, gerido pelo IDG e localizado em São Paulo, tem se consolidado como um caso de inovação comunicacional — não apenas por suas estratégias de alcance, mas por reconfigurar o próprio lugar da mídia na relação entre museus e sociedade.
Quando iniciamos o projeto há pouco mais de três anos, tínhamos o desafio de constituir um museu inovador. Partindo da colaboração dos funcionários, em maioria pessoas periféricas, criamos uma comunicação enquanto instrumento de escuta, memória, disputa narrativa e construção de identidade coletiva. Aqui no Museu, mídia não é apenas canal, é território político.
O olhar dentro da favela
A linguagem visual foi pensada para ecoar as estéticas e vivências das favelas: tipografia, elementos gráficos, paleta de cores — como o laranja tijolo baiano. Tudo isso cria um reconhecimento que parte da produção de um conteúdo humanizado e construções imagéticas que valorizam o olhar de dentro da favela. A estética não é decorativa, é narrativa.
O Museu não busca “traduzir” a favela para o público; ao contrário, reivindica signos como legítimos e centrais na representação da cultura brasileira. A comunicação fala a partir das favelas e com elas. E isso muda tudo.
A primeira pessoa como enunciação política
Como premissa, buscamos uma linguagem antirracista. Além disso, compreendemos que o Museu não poderia “falar por todas as favelas”, e sim, evidenciar suas memórias e produções culturais.
A decisão de utilizar a primeira pessoa do singular nos conteúdos produzidos para mídias sociais não foi meramente “marketing”, mas uma escolha discursiva que rompe simbolicamente com a comunicação institucional tradicional. É acessível e parte de uma concepção que defino como “o escrever-falado”, fundindo a oralidade com a escrita. No entanto, distancia-se do individualismo, buscando um “eu coletivo”, de forma a reconhecer as subjetividades que partem das experiências coletivas.
Eu sou o Museu das Favelas: o vídeo manifesto
A decisão de realizar um manifesto como peça central da comunicação foi uma estratégia estética, política e institucional. Ao optar por esse formato, mobilizamos uma linguagem audiovisual para afirmar não apenas a nossa missão, mas também o pertencimento simbólico às lutas e narrativas das favelas e periferias. O pertencimento começava com a participação dos colaboradores: o Museu não somente diz o que é, mas mostra o que é, elevando o seu posicionamento a múltiplos sentidos, de forma afetiva e performativa.
Uma nova gramática para a comunicação institucional
O Museu das Favelas oferece uma contribuição importante para o campo da comunicação: desafia a rigidez do institucional, ressignifica o papel da mídia e propõe uma gramática comunicacional que combina estratégia, sensibilidade e compromisso ético.
Finalizo celebrando essa experiência: fazer mídia, hoje, é mais do que planejar de que forma uma mensagem será transmitida. É diversificar e amplificar vozes, mobilizar signos em favor de futuros possíveis.
O Museu das Favelas
O Museu das Favelas é um espaço cultural dedicado à valorização das favelas, periferias e suas múltiplas expressões culturais, sociais e históricas. Localizado no icônico Palácio dos Campos Elíseos, em São Paulo, o museu atua como um território de memória viva, escuta, diálogo e criação coletiva de preservação das comunidades periféricas, reúne atividades diversas como apresentações, simpósios e encontros, além de amostras próprias.

Inaugurado em 2022, o Museu das Favelas nasce com o propósito de reconhecer, preservar e celebrar as narrativas das populações periféricas do Brasil, colocando no centro a potência criativa, a resistência e a ancestralidade que emergem desses territórios.
Quem é Priscilla Fenics?

Priscilla Fenics é coordenadora de comunicação do Museu das Favelas. Mestre em Ciências Sociais, rapper, possui graduação em Marketing e especialização em Comunicação Institucional, Gestão Cultural, Estratégia e Marketing Digital.