A Rede Jornalistas Pretos (Rede JP) participou, neste último dia 3 de dezembro do Encontro Online dos Jornalistas e Estudantes de Jornalismo Pretos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O evento, focado no fortalecimento da rede de apoio e na discussão de práticas antirracistas na comunicação, foi resultado de uma parceria com a Secretaria de Comunicação (Secom) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e contou com o apoio institucional do SindJoRS (Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul), Associação Riograndesa de Imprensa (ARI) e a Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS (Fabico/UFRGS).
Sob mediação de Wagner Machado, secretário-adjunto de Comunicação da UFRGS, estiveram presente Marcelle Chagas, coordenadora geral da Rede JP, e Kelvyn Araujo, jornalista e community manager do Jornalistas Pretos, que apresentaram as principais atividades e produções da Rede e a importância da construção de um jornalismo e comunicação antirracista.
Entre os destaques do debate estiveram detalhes e informações do e-book Manual de Boas Práticas Antirracistas para a Comunicação Digital, lançado este ano pela Rede JP e que bateu recorde de downloads, e o trabalho de atuação do Jornalistas Pretos ao longo dos anos para a construção de um jornalismo inclusivo por meio de ações e projetos inovadores e de ativismo, como a recente Rede de Proteção Digital a Comunicadoras Negras (REPCONE).
O Manual de Boas Práticas Antirracistas e o caminho de implantação da diversidade na comunicação
Ao todo, o evento foi dividido em duas partes. Na primeira, ocorreu a apresentação geral das atividades da Rede JP e do Manual de Boas Práticas Antirracistas na Comunicação Digital, além das diretrizes e informações contidas no ebook, gratuito e que pode ser baixado através deste link.
Ao analisar sobre a repercussão do Manual e as motivações para o trabalho realizado no ebook, desenvolvido por Marcelle Chagas e Denise Mota, Chagas pontuou como a preocupação sobre temas universais de ausência na comunicação permitiram o desenvolvimento da obra, que envolve além de dados, glossário de termos, redirecionamento de bibliografias, pesquisas e bancos de extração digital de imagens inclusivas para fotos e artes, entre outras aplicações diárias para comunicadores.
“A gente procura olhar de fora, traz também sim esse olhar amplo, do que temos e precisamos incorporar, no Brasil e outros paises. Então a diversidade regional e uma diversidade cultural para a gente é importante dentro das discussões que temos liderado e deste Manual. Acabou fazendo com que esse manual se tornasse esse sucesso. Essa grande referência que se tornou. Do impacto que muitas pessoas e diversas culturas tiveram com o que foi feito, nas redações, de profissionais. Vira e mexe a gente recebe mensagens de pesquisadores estão utilizando o material, profissionais na sala de aula também. Isso é a validação do desenvolvimento da obra e do que fizemos. Esse caráter de identificação universal e coleta destas influências de fora”, frisa.
Ao refletir sobre a implementação do Manual nas redações e efetiva incorporação da diversidade racial nas organizações, Chagas reflete como a obra necessita ser acompanhada como um elemento de necessidade e abertura por parte dos jornalistas como elemento primordial para mais profissionais negros na comunicação. Não somente, como no ecossistema representativo do jornalismo, incluindo a participação como personagens em matérias e produções.
“A gente acredita que é simplesmente poder verificar e se permitir ser parte da mudança. O material feito justamente para ser colocado em prática. Obviamente que a gente não consegue falar tudo no material curto, então a gente traz ali pontos que a gente considera que seja um essenciais para início dessa discussão, e que a gente avance a partir disso. O início de conversa o início de diálogo, mas é a gente mostra que é possível você e qualquer um se envolver e ser parte desse avanço. Colocar em prática o que está ali e pesquisar até sobre coisas que complementam, mostrar a outros, abrir espaços onde você trabalha sobre o tema, enfim. Um ímpeto para a mudança de quem baixa o Manual, por isso a importância dele e o lado tão didático que procuramos trazer”, diz.
O legado da luta antirracista na comunicação
Ao refletir sobre a importância do encontro e de iniciativas como o Manual e projetos da Rede, incluindo a REPCONE, Chagas frisa como a luta antirracista na comunicação deve estar arraigada não somente em datas e momentos específicos nem a somente determinados espaços e quantidades de profissionais, além da participação efetiva deles no processo comunicativo, ao longo dos anos. “Primeiro de tudo é importante discutir que assuntos relacionados à população negra sejam feitos aó em novembro, que é o que acontece muito, né? É abrir esses debates sempre e, no caso da comunicação, incentivar a diversificação de conteúdos. Da forma de apresentar o jornalismo através destes termos, incorporar eles no dia a dia e trazer a figura afrocentrada como centro das matérias e personagens.”
Ela complementa. “Nisso o Manual e os nossos trabalhos são sempre voltados a esclarecimento para mudança das pessoas e de um sistema racista. De como evitar estereótipos. Não ver e colocar negros no lugar que imaginam ser os nossos. O Manual busca partir dos seus vieses que te levam a chamar o jovem negro na mesma situação que o jovem branco de traficante ou o criminoso diretamente. Isso pra citar um exemplo dentre inúmeros. O que digo é de que há várias formas que você pode implementar boas práticas antirracistas dentro do seu ambiente de trabalho. Mas para além delas, ter o sentimento de legado, de que você pode pavimentar essa boa vontade e essa construção pra tornar o ambiente da comunicação diverso. Claro que não é fácil, mas é uma procura e absorvição constante do que está ali e do que fazemos. E de que é possível mudar estereótipos e formas pré-concebidas do que a gente acha que é um jornalismo inclusivo.”
Kelvyn Araujo, jornalista que também participou do debate, frisou a capacidade de “driblagem” do algorítmo que, ao todo, incentiva maior parte de difusão de veículos tradicionais em vista de independentes e do papel de “construção de redes de influência” para se influenciarem.
“É importante também falar deste papel de absorvição por parte dos conteúdos como a Marcelle disse sobre o que o algorítmo das redes nos influencia e a capacidade da gente criar nossas redes de influência. Se perguntar qual é o a editoria que esse jornais estão falando e o que que eu posso fazer para eu ter uma outra reflexão para além dessa reflexão aqui bem eurocêntrica e branca sobre um determinado tema ou sobre determinado os assuntos que são muito importantes no Brasil e no mundo. Então daí é também você pesquisar, procurar outros veículos e etc e criar esse círculo. Isso vem, claro, do Manual até vir até colegas da tua comunicação livre a chegar. Jornalista tem sempre mil grupos né? A gente tem sempre um grupo de 300 pessoas, 400. E ir fortalecendo contatos com esses nomes, esses profissionais negros e pedir indicações. Isso fortalece demais. Além de você incorporar esses veículos ao seu meio, te torna parte deste avanço”.
Marcelle conclui que o antirracismo é parte direta de não apenas um movimento de avanço social, mas inovador na comunicação, ajudando a redimensionar organizacionalmente empresas e institutos. “No fim de tudo, é sobre renovação, se inovar. Tirar o caráter de inovação da tecnologia e perceber que incorporando o Manual e suas diretrizes no ambiente é parte de uma necessidade constante da comunicação ser mutável e inovadora, afinal de contas não podemos continuar estagnados na perspectiva social e da branquitude.”
A integra da transmissão pode ser conferida no link abaixo.