No início de junho, uma iniciativa importante foi anunciada: o aplicativo Áfricas Play. Homônimo do nome da agência de notícias e reportagens voltadas ao mundo negro, ele concentra espaço online para os navegantes terem acesso a consumo de eventos, produtores e artistas da cultura artística negra, abrangendo trabalhos e informações em tempo real sobre tudo que envolve gêneros musicais, literatura, dramaturgia, exposições, podcasts e programas, etc.
Gratuito e disponível na loja de aplicativos de qualquer aparelho, o Áfricas Play nasceu com a ambição de centralizar e disponibilizar eventos e produtos em tempo real, facilitando o acesso à informação e o engajamento do público com a cultura negra. A plataforma foi anunciada em evento presencial no Sesc Araraquara, em São Paulo, no último dia 3. Além do anúncio, será realizada em breve uma live exclusiva de lançamento oficial, cujas informações poderão ser adquiridas através do próprio app.
Para conversar sobre a importância da construção de espaços dedicados a difusão da arte negra e o legado de iniciativas voltadas à prática, a Rede JP conversou com o jornalista e empresário Washington Andrade, CEO do Áfricas Play e integrante da Articulação pela Mídia Negra, que falou sobre a ideia do aplicativo e deu uma visão aprofundada sobre os temas.

A carência de espaços digitais para a arte negra e o cenário para o futuro
Ao refletir sobre a carência de espaços no ambiente digital concentrados a cultura artística negra, Washington diz que um dos principais empecilhos para mais projetos voltados a difusão ampla da arte racializada é a individualidade específica que algoritmos nas redes acabam proporcionando aos artistas em si.
“Há uma carência evidente de um espaço digital que centralize e valorize a cultura negra em toda a sua diversidade. Nosso público muitas vezes, ainda cria projetos focados em suas especialidades e em suas redes de ação, acabamos competindo para ver quem tem mais seguidores nas redes sociais, buscando, quem sabe, alguma migalha de empresas que só usam nossa imagem quando convém em vez da união efetiva de todos. O Áfricas Play nasce para tentar suprir essa lacuna de forma efetiva.”
Apesar dos desafios, porém, o jornalista e empreendedor logo completa que o cenário no futuro será animador. “Acredito que veremos um aumento de iniciativas focadas em valorizar e dar visibilidade à cultura negra na música e no entretenimento. As pessoas estão buscando cada vez mais representatividade e conteúdo autêntico. Iniciativas como a nossa, que oferecem ferramentas práticas, podem impulsionar esse cenário.”
O aplicativo Áfricas Play e seu espaço no cenário de representação
Quando Washington fala de ferramentas práticas, é algo literal. Dentro do aplicativo, produtores de eventos, iniciativas e artistas têm livre acesso para cadastros de seus produtos e atividades para o grande público. Conteúdos de livros, podcasts, músicas, canais e locais de exposição, ensaios e afins são contemplados por meio de filtros automatizados, incluindo um menu interativo com opções próprias.
O jornalista não esconde o orgulho, frisando a importância destes detalhes para um espaço colaborativo. “No Áfricas Play, me orgulho de várias ferramentas, mas destacaria a ‘Agenda Cultural em Tempo Real’ e o ‘Mapeamento em Tempo Real’. São o coração da plataforma, pois democratizam o acesso à informação, permitindo que o público encontre facilmente eventos e locais da cultura negra que passariam despercebidos. Tem também a ‘Ferramenta de Inscrição para Jornalistas, YouTubers, Criadores de Conteúdo (como YouTubers e Podcasts), Produtores de Audiovisual e Artistas’, que é crucial porque empodera outras mídias. Oferece um canal direto e gratuito para que eles divulguem seus trabalhos e se conectem com uma audiência engajada sem depender dos algoritmos”.

Washington, ao falar sobre o surgimento da plataforma, declara como o ímpeto de criação do aplicativo se deu diretamente de sua percepção como jornalista e profissional negro na comunicação.
“Como jornalista e alguém envolvido com o movimento negro e políticas públicas para igualdade racial, sempre estive atento à necessidade de dar mais visibilidade a essa rica produção cultural. Daí veio a ideia. Eu tinha o desejo de, de alguma maneira, unir nosso povo.”
Ele complementa pontuando o quão o espaço digital era e é fundamental para uma solidificação destes objetivos. “A tecnologia nos proporciona isso de forma simples, valorizando muito a individualidade de cada ator do projeto. A ideia de plataforma tão única [aplicativo] veio quando percebemos que não bastava apenas ter bons eventos ou conteúdo; era preciso centralizar e facilitar o acesso a eles. Ótimas iniciativas da cultura negra se perdem por falta de um canal eficaz de divulgação. A ideia de criar um aplicativo gratuito e acessível para todos, que conectasse jornalistas, produtores, artistas e público foi um passo decisivo.”
O papel de desafio à lógica racista da mídia tradicional
Washington também fala do quanto iniciativas como o Áfricas Play servem como um desafio a lógica do “engajamento fácil” de viés racista que, em sua visão, permeia parte do jornalismo cultural hoje. “A falta de cobertura intensificada sobre programas, eventos e artistas negros é sistêmica, reflete uma estrutura midiática que historicamente marginalizou vozes. A lógica do ‘clique’ e do ‘engajamento fácil’ negligencia a profundidade e a relevância de movimentos culturais menos comercializados, mas de imenso valor social e artístico, como os negros“, enfatiza.
Ele completa:”Precisamos de um jornalismo mais investigativo para realmente refletir a riqueza cultural do nosso país.”
A construção de uma missão social

O aplicativo terá uma live oficial de lançamento, que poderá ter seus detalhes diretamente acompanhados pelo aplicativo. Por lá, estarão detalhados cronograma e o formato do evento, que será transmitido online e focado, de acordo com Wellington, no ambiente digital.
Sobre como funcionará o encontro, ele disse: “O objetivo é que essa live com um foco muito maior na abrangência digital. Nossa meta com a live é alcançar um público mais amplo e reforçar a mensagem de que o aplicativo não se restringe a uma única cidade ou estado, mas é uma ferramenta do Brasil. Durante a transmissão, apresentaremos os recursos do aplicativo, incentivaremos produtores e artistas a se cadastrarem e divulgarem seus eventos, e reforçaremos a importância da plataforma como um canal de conexão direta.
Ao finalizar, o jornalista e empreendedor faz questão de demonstrar sua satisfação e expectativa perante o aplicativo, que em sua visão, cumpre uma missão social. “Se pudesse definir minha satisfação em promover essa iniciativa em uma palavra ou frase, seria: ‘Mais que um aplicativo, é um Movimento!”‘. Porque o Áfricas Play é mais que um aplicativo; é a concretização de um propósito de vida de dar voz, visibilidade e dignidade à cultura negra e aos seus criadores. É um movimento que visa impactar vidas e constrói um futuro mais justo e representativo.”