A violência contra jornalistas é uma ameaça à liberdade de imprensa e ao direito à informação de milhões de pessoas. Apesar dos compromissos internacionais de combate à mesma, a realidade mostra que a maioria dos crimes contra jornalistas permanece impune.
O Ćndice de Impunidade Global 2024 do ComitĆŖ para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) expƵe a falha de muitos governos em garantir justiƧa para os comunicadores, e coloca o Brasil em um cenĆ”rio preocupante ao lado de paĆses como Haiti e Israel, lĆderes do ranking deste ano. Dados do CPJ apontam que paĆses em conflito, regimes autoritĆ”rios e regiƵes onde o crime organizado tem grande influĆŖncia tendem a apresentar Ćndices altos de impunidade.
Para se ter uma ideia, em 2024, o Haiti ocupa o primeiro lugar, enquanto Israel aparece no Ćndice pela primeira vez, com oito jornalistas mortos em 2023 durante o agravamento do conflito com a Palestina. A inclusĆ£o de Israel neste ano destaca como as zonas de conflito podem transformar jornalistas em alvos, afetando a cobertura independente e prejudicando o direito Ć informação das populaƧƵes envolvidas.
O Brasil no Ćndice de impunidade
Em 2024, o Brasil ocupa uma posição alarmante no Ćndice de Impunidade Global do CPJ. Embora o paĆs nĆ£o esteja entre os primeiros, a situação Ć© preocupante, pois os casos de violĆŖncia e ameaƧas a jornalistas seguem crescendo, especialmente fora dos grandes centros urbanos, onde os profissionais frequentemente enfrentam pressƵes de autoridades locais e crime organizado.
De acordo com dados do CPJ, vĆ”rios casos de assassinato de jornalistas no Brasil permanecem sem solução. Muitos crimes ocorrem em regiƵes mais perifĆ©ricas ou no interior do paĆs, onde as redes de poder, crime e corrupção exercem maior controle e impƵem barreiras Ć livre atuação da imprensa.
O impacto da impunidade
A persistente impunidade para crimes contra jornalistas no Brasil tem um efeito direto no aumento da autocensura. Profissionais que tentam realizar uma cobertura investigativa sobre temas sensĆveis acabam se afastando de questƵes fundamentais, com medo de represĆ”lias. Isso afeta diretamente o acesso Ć informação da população, comprometendo o papel da mĆdia em um paĆs democrĆ”tico.
AlĆ©m disso, a impunidade desencoraja novos jornalistas a entrarem na profissĆ£o e contribui para que muitos considerem abandonar a carreira ou se mudarem para regiƵes consideradas mais seguras. Em escala global, a busca por justiƧa para jornalistas assassinados tem ganhado apoio de iniciativas como o projeto Safer World for the Truth, que coleta evidĆŖncias e oferece suporte Ć s investigaƧƵes. No entanto, para paĆses como o Brasil, onde o sistema jurĆdico enfrenta falhas estruturais e influĆŖncia polĆtica, a implementação dessas iniciativas encontra muitos obstĆ”culos.
A ONU tem adotado resoluções para garantir proteção aos jornalistas, mas a falta de uma força-tarefa global para responsabilizar diretamente os responsÔveis por crimes contra comunicadores continua a ser uma barreira significativa. No Brasil, a lentidão do sistema judicial e a corrupção interna desafiam ainda mais a busca por justiça.
O Ćndice de 2024 do CPJ revela uma realidade inaceitĆ”vel para jornalistas no Brasil e em vĆ”rias outras naƧƵes: a impunidade se tornou a regra, e nĆ£o a exceção. Garantir a seguranƧa dos jornalistas exige mais do que compromissos em documentos internacionais; Ć© necessĆ”rio que os governos locais promovam polĆticas de proteção efetivas e que trabalhem em colaboração com iniciativas globais para reforƧar as investigaƧƵes e puniƧƵes nos casos de violĆŖncia contra jornalistas.
Texto de Marcelle Chagas e Kelvyn Araujo; edição final por Kelvyn Araujo.