Na última semana, a Red de Periodistas AfroLatinos teve sua primeira publicação na parceria coordenada com a seção América Futura, do jornal El País. O espaço, que contará com reportagens de profissionais do Brasil, Colômbia, Argentina, Chile e Peru, foi aberto com uma grande matéria sobre justiça climática e como as constantes mudanças no clima afetam populações periféricas no Brasil.
A reportagem, intitulada “Sensação térmica de mais de 60 graus: por quê nas favelas do Rio fazem mais calor?” pode ser lida integralmente através deste link. Ela conta com entrevistas de moradores e relatos de especialistas, dados de pesquisas, e traça um panorama completo do impacto sobre as mudanças que necessitam ser feitas a respeito de quem é mais afetado pelo clima de hoje.
A jornalista mineira Ester Pinheiro, idealizadora e escritora da matéria, ressaltou sua importância e o que a motivou abordar a temática para a reportagem.
“Quando meus amigos me perguntaram sobre o que eu escrevia e respondi: ‘racismo climático’, seus rostos mostraram dúvida antes da pergunta inevitável: ‘mas o que é isso?’. Foi então que entendi a importância de contar histórias como a de Soraia, uma mulher negra do Rio de Janeiro que vende comida caseira na rua e, ao voltar para casa, precisa suportar temperaturas extremas. No verão, a sensação térmica já passou dos 60 graus nas favelas do Brasil.
Entrevistando Soraia e especialistas em clima e que conhecem a realidade e vivem em favelas, percebi algo que vai além dos números ou das estatísticas sobre as mudanças climáticas. Senti em suas palavras o cansaço de quem luta todos os dias para sobreviver em um ambiente que parece ter sido projetado para excluí-los. Fiquei impactada ao ver como o calor extremo não é apenas um incômodo, mas um obstáculo real para se viver com dignidade. Dormir, trabalhar, estudar ou simplesmente existir nessas condições é um desafio constante.
Mas também entendi que esse não é um problema sem solução. Vi iniciativas que podem fazer a diferença: telhados verdes que reduzem a temperatura dentro das casas, projetos de arborização que refrescam as ruas e melhoram a qualidade do ar. No entanto, o que mais ficou claro para mim é que essas soluções não podem depender apenas da vontade individual ou de pequenas iniciativas isoladas. É o Estado que deve assumir a responsabilidade de garantir condições de vida dignas. Esta matéria traz luz a isto.”

Usando como gancho a última frase, Ester complementa, se aprofundando nas questões de como a população enxerga quem vive nas grandes cidades e de como a estigmatização racial também colabora com os impactos do clima.
“A urbanização das cidades é racista, porque o racismo é estrutural. Não é coincidência que as áreas mais afetadas pelo calor extremo sejam também as mais empobrecidas e abandonadas. A reforma urbana não é apenas uma questão de infraestrutura, mas de justiça. É preciso repensar a forma como enxergamos a cidade e a quem deixamos de fora dela. Não se trata apenas de mudança climática, mas de quem tem o direito de habitar e viver com dignidade nesses espaços. Acredito que contar essas histórias é fundamental, porque a mudança climática é real e nos afeta a todos, mas não da mesma maneira. A justiça climática começa por reconhecer essas desigualdades e exigir que ninguém seja esquecido.”
Parceria Red de Periodistas e América Futura

Fundada no segundo semestre de 2024, a Red de Periodistas AfroLatinos é uma iniciativa da Rede Jornalistas Pretos que busca conectar jornalistas negros da América Latina para desenvolver projetos comunicativos e fortalecer narrativas diversas. A parceria da Red de Periodistas com a seção América Futura, do jornal El País, publicará reportagens de jornalistas afrolatinos com foco em temas de impacto social.
Nos próximos meses, novas reportagens serão divulgadas nesse espaço, com contribuições de profissionais do Brasil e de outros países latino-americanos. Para saber tudo sobre a parceria e os temas abordados, acesse o link disponível da página oficial da Red de Periodistas AfroLatinos.