No mercado da comunicação e jornalismo, as atividades propostas por empregadores sempre são um campo de debate. Muitas vezes são alvo de críticas pelo que exigem ou geram desconfiança por não contemplarem exatamente a vaga proposta. Por isso, é crucial que os profissionais se mantenham atentos às tendências mundiais.
O artigo “Facets of Journalistic Skills”, escrito por 19 teóricos e profissionais, examina 531 anúncios de emprego de 32 veículos de mídia de sete países (EUA, Reino Unido, Austrália, França, Alemanha, Áustria e Suíça) e inclui um comparativo com outras regiões, como a América Latina. A pesquisa, que analisou anúncios coletados em 2023 e 2024, destaca demandas por habilidades digitais, experiência de trabalho, diplomas acadêmicos, transparência salarial e diversidade como os principais critérios exigidos por recrutadores. A Rede JP selecionou os principais dados desse estudo e a participação do Brasil no debate.
Entre os principais achados, destacam-se a alta demanda por habilidades digitais como SEO, análise de audiência, gerenciamento de redes sociais e produção multimídia, enquanto a exigência de competências em inteligência artificial ainda está em estágio emergente.
A experiência de trabalho varia conforme o país, sendo mais exigida nos EUA e correlacionada a salários mais altos. O diploma universitário é frequentemente solicitado nos EUA e na França, mas tem menos peso em outros países, onde a experiência profissional pode ser mais determinante para a contratação. A transparência salarial é inconsistente, com apenas um terço dos anúncios incluindo detalhes de remuneração.
Já a promoção da diversidade se destaca nos EUA e na Austrália, onde muitas vagas mencionam inclusão em relação a gênero, etnia, religião e deficiência. A pesquisa também detalha as funções mais requisitadas no setor, que incluem repórteres, jornalistas digitais, jornalistas de dados, fotojornalistas e jornalistas multimídia. Em funções editoriais e de produção, há demanda por editores, produtores associados e seniores, além de produtores de mídia digital, multimídia, vídeo e redes sociais.
Nas áreas técnicas e de dados, os mais procurados são especialistas em SEO, engenheiros de software, gerentes de plataformas digitais, gerentes de engajamento de audiência e estrategistas de conteúdo. Já no campo criativo, as oportunidades se concentram em designers gráficos, designers de motion e designers de storytelling visual.
A necessidade de habilidades digitais varia de acordo com o veículo e a função. Mesmo em emissoras de TV e jornais impressos, a imersão no digital é essencial. Para cada tipo de mídia, essa relação se manifesta de forma específica: nas emissoras de TV, há maior foco em habilidades audiovisuais e multimídia com tratamento digital; na imprensa tradicional, busca-se um equilíbrio entre competências analógicas e digitais, incluindo interação com redes sociais e análise de dados; já as mídias exclusivamente online priorizam fortemente SEO, análise de dados e adaptabilidade do conteúdo ao ambiente digital.
A exigência de experiência também varia. Nos EUA, Reino Unido e Austrália, é comum que se peça um diploma em jornalismo ou comunicação, enquanto em países como Alemanha, Áustria e Suíça essa exigência é menos rígida. No entanto, a pesquisa aponta que, em média, 71% das ofertas de emprego ainda requerem diploma universitário e registro profissional. O estudo mostra uma divisão clara nas práticas de contratação, com a demanda por habilidades digitais em crescimento e a diversidade ganhando mais espaço, especialmente nos EUA, Austrália e América Latina.
No Brasil, os atributos mencionados na pesquisa também são relevantes, mas três fatores se destacam: a proximidade maior com o público, o conteúdo misto entre formatos e a valorização do storytelling. Segundo dados da Tiniside, 71% dos profissionais da área se baseiam fortemente no marketing e na comunicação direta com o público, independentemente da especialidade.
Outro levantamento, da Acsac, publicado em 2022, indicou que a chamada “divulgação conversacional” – uso de plataformas como WhatsApp, Messenger e Instagram para envio de atualizações e interação direta com leitores e consumidores – se tornou um diferencial competitivo no setor. Além disso, o conteúdo multimídia tem grande peso no Brasil e na América Latina, exigindo que jornalistas e comunicadores dominem a integração de texto, vídeo, áudio e redes sociais para ampliar o alcance e o engajamento.
A narrativa envolvente, ou storytelling, também se tornou uma estratégia fundamental, sendo percebida por 56% dos empregadores como uma habilidade essencial para garantir a acessibilidade e a conexão emocional com o público.
Embora o avanço das tecnologias digitais e da automação seja uma realidade em 80% das empresas jornalísticas, a representatividade ainda é um desafio. Globalmente, 77% das redações permanecem majoritariamente brancas, indicando que, apesar das transformações no setor, ainda há um longo caminho a percorrer para garantir mais inclusão e diversidade, especialmente na América Latina.