A jornalista congolesa e ativista dos direitos humanos, Claudine Shindany, vive no Brasil há 11 anos. Em 2014, deixou a República Democrática do Congo após sofrer perseguição política pelo trabalho que desenvolvia como jornalista. Atualmente, além de atuar na regularização migratória de imigrantes e refugiados, Shindany visita escolas municipais em São Paulo para ensinar sobre a história e a cultura do continente africano.
Em relato exclusivo à Rede JP, Shindany fez um desabafo emocionado sobre a crise humanitária em seu país, que vive um massacre ignorado pela mídia e pela comunidade internacional há mais de três décadas. Desde o fim de 2024, a situação na República Democrática do Congo se agravou. Em janeiro deste ano, facções em guerra intensificaram os conflitos pelo controle de áreas no leste do país, uma região rica em minerais essenciais para a fabricação de computadores, smartphones, tablets e veículos elétricos — recursos que atraem o interesse de grandes potências, enquanto a população sofre com a violência.
O grupo rebelde M23, apoiado por soldados de Ruanda, país vizinho, tomou o controle de Goma, a maior cidade do leste do Congo. Com cerca de um milhão de habitantes, Goma é estratégica para a economia e a administração do país. Até a última segunda-feira (17/02), mais de 5 mil pessoas morreram nos conflitos que resultaram na captura da cidade. A ofensiva do M23 tem levado a um aumento significativo no número de deslocados internos. Desde o início de 2025, mais de 400.000 pessoas por dia foram forçadas a deixar suas casas devido à escalada dos combates, resultando em uma crise humanitária de grandes proporções.
Relatos de torturas, massacres e violência extrema contra mulheres e crianças, frequentemente usadas como armas de guerra, se espalham pelo país. Ao todo, 8 milhões de pessoas, em estimativa geral, já estão em abrigos e fora de lares até o momento.
Shindany denuncia que o conflito tem sido ignorado pela mídia internacional e cobra um posicionamento do Brasil, destacando que um general brasileiro lidera a missão da ONU na República Democrática do Congo. Ela também questiona a cobertura da imprensa brasileira e espera que os veículos de comunicação deem visibilidade à crise para pressionar a comunidade internacional a agir de forma prática e ajudar a população congolesa a alcançar a paz.
Veja o apelo em conversa abaixo, onde ela é perguntada sobre outros aassuntos: o silenciamento da mídia, quais meios possamos tomar para tornar o assunto pauta pública internacional e de engajamento, entre outros tópicos.