Em uma grande celebração de música e espiritualidade, o Bloco Tecnomacumba movimentou, no último sábado (16/02), às ruas da Saúde, no Centro do Rio. Exaltando as tradições das religiões de matriz africana e todos os seus simbolismos, encantou foliões que se encontraram no Cais do Valongo, região na Zona Portuária da cidade que representa a mais importante evidência física associada à chegada de escravizados no Brasil. Isto tudo mostrando um mix de representatividade em seu conceito carnavalesco e o bom e velho espírito da festa de rua mais amada da América Latina.
A cantora Rita Beneditto, representante do bloco que comandou toda a festa, comemorou o cortejo da agremiação e o sucesso entre seus participantes, fundado nos anos 2000. “São 20 anos de (projeto) Tecnomacumba celebrando as comunidades de terreiro. Que bom poder ter este desfile cheio e ver todos eles”, afirmou.
O bloco surgiu de um projeto artístico da cantora, lançado há 22 anos, que acabou ganhando forma em manifestação cultural. Nesta segunda edição, duas participações ajudaram a dar a tônica celebratória: a banda Cavaleiros de Aruanda e o conjunto feminino Filhas de Gandhy, além da profusão de artistas originários de matrizes africanas representando entidades da umbanda e do candomblé.
Abaixo algumas fotos de integrantes vestidos. Acima, enquanto há uma mulher integrante vestida em roupas e pulseiras de entidades negras, abaixo os três homens representam com ternos brancos e chapéus um outro imaginário de uma figura: Zé Pilintra.


Fotos: Fernando Maia/RioTur.
A construção da identidade para além do Carnaval como folia
Em uma época carregada de história e identificação como o Carnaval, o bloco tem em seu diferencial o ensinamento e a profusão “cultural” de apresentar as origens e presenças da cultura afro-brasileira, mostrando suas raízes de proximidade e vinculação com o território.
Uma das primeiras a chegar para a festa, Mãe Esther de Airá afirmou que o ambiente era só de alegria. “Conheço Rita (Benneditto) há muito tempo e não podia deixar de prestigiar este desfile tão bonito e tão importante para nós de religião de matriz africana”, disse.

Foto: Fernando Maia/RioTur.
Propositalmente, a locação tinha de conversar com o que o Tecnomacumba representa. Isto porque o desfile passou por boa parte da região conhecida como “Pequena África”, área abrangida pelos bairros Saúde, Gamboa e Santo Cristo, na zona portuária do Rio, ocupada por uma população majoritariamente negra onde está o chamado Cais do Valongo – Património da Humanidade -, o Cemitério dos Pretos Novos, os morros da Conceição e da Providência e a Pedra do Sal, cuja história está intimamente ligada ao samba.
Sobrinha de Mãe Esther, Tamara dos Anjos, que estava acompanhando a líder religiosa, exaltou a importância do desfile acontecer na região da Pequena África: “Este local é muito simbólico. Foi aqui que tudo começou e fiz questão de vir de vermelho, representando as pombas-giras que me acompanham e protegem meus caminhos”.