O mote de discussão em torno das mudanças climáticas não é novo. Além disso, conforme o aumento de fenômenos naturais extremos, torna-se sempre atual. Baseado nisso, o Instituto Reuters publicou relatório sobre o tema e a relação do mesmo com o público de notícias e a comunicação.
O relatório, que pode ser lido em sua língua original e detalhadamente através deste link, é de autoria de Waqas Ejaz, Mitali Mukherjee e Richard Fletcher e baseado em dados de uma pesquisa mundial, realizada em novembro último compilando oito países: Brasil, França, Alemanha, Índia, Japão, Paquistão, Reino Unido e EUA. Os números sugerem opiniões, críticas, sugestões e previsões a respeito de como as mudanças climáticas estão inseridas na comunicação.
A pesquisa mostra certa estagnação nas opiniões públicas, atitudes e engajamento com as questões climáticas ao longo do tempo, apesar da crescente urgência da crise e do trabalho de cientistas e jornalistas para explicar seus efeitos. Ao todo, o levantamento apresenta conclusões entre vários tópicos, que a Rede JP vai apresentar abaixo.
Quantas pessoas acompanham notícias sobre o clima?
De acordo com os números amalgados de todos os países cobertos, 50% das pessoas acompanham notícias sobre mudanças climáticas toda semana – sem grandes mudanças em relação a 2022, ano mais antigo de comparação e lastro temporal do levantamento.
O consumo de notícias sobre o clima é mais alto na França (60%) e mais baixo nos EUA (34%), onde houve uma queda de 16 pontos em relação a 2023, no contexto das eleições presidenciais. O Brasil é um dos países mais acompanhantes no sentido. 57% da população se informa, com alto grau de frequência, sobre o assunto. Empatado com a Alemanha, nos dois últimos anos o interesse passou a ter maior alta, concomitantemente ao clima e a temperatura média na América do Sul estar como um dos consideráveis dentre todo o mundo.

Dados sobre o acesso de notícias. Os números frisados em laranja representam a média dos oito países do levantamento.
Como as pessoas acessam notícias sobre o clima?
A Reuters mostra que a mídia continua sendo a principal forma de acesso à informação sobre mudanças climáticas, à frente de documentários e plataformas sociais. A TV (31%) e os sites de notícias online (24%) são os meios mais usados. Vídeos são o formato preferido, superando os textos. Vale destacar que a proporção é a soma da média entre os oito países citados no início da reportagem.
Além dos dois veículos, fecham o top 5 de preferências as redes sociais (19%), documentários e produtos audiovisuais (11%) e jornais impressos (10%). Nestas duas últimas fontes, há uma leve inclinação da influência exterior no consumo, considerando que a TV e as notícias online têm predominância na Alemanha, França e Brasil, enquanto nos demais países a visibilidade possui estabilidade, enquanto nos citados por fim, a alta adoção nas “transmissões tradicionais” nas nações remanescentes puxa o índice para os cinco mais.
Quão disseminada está a desinformação sobre o clima

Gráfico geral com cada país e dado de recepções de informações enganosas desde 2022 à atualmente.
Em média, 25% das pessoas, de acordo com a pesquisa afirmam ver informações enganosas sobre mudanças climáticas toda semana – com pouca alteração geral em relação a 2022. Os números mais altos de exposição à desinformação autodeclarada estão na Índia (43%), com números consideravelmente mais baixos no Reino Unido (17%) e no Japão (16%).
O Brasil possui um índice considerado mediano, não tão visto como desinformador ao extremo mas também não tão confiável, com 27%. As desinformações, segundo elas, vêm de três fontes primárias: políticos e partidos (12%), governos (11%) e influenciadores e celebridades (10%).
A pesquisa aproveitou para avaliar o evento da COP29 — a 29ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC) — e o impacto no tópico dentro dos respondentes do levantamento. A resposta foi, em maior grau, negativa. O evento pouco tornou esclarecido às pessoas a pauta da mudança climática. Em média, 14% dizem nunca ter ouvido falar do COP, enquanto 21% afirmam ter ouvido falar, mas não sabem nada sobre o evento. Ainda assim, 61% dizem saber pelo menos um pouco sobre o COP, mas apenas 9% afirmam saber “muito”, menor índice de todas as opções disponibilizadas.
Como as pessoas percebem eventos climáticos extremos?
A maioria das pessoas no Brasil (76%) e na Índia (65%) relata ter experimentado e se atentado à necessidade da agenda climática pelas ondas de calor prolongadas. Já as inundações severas são a principal justificativa para mais da metade dos entrevistados na Índia (59%) e no Paquistão (54%).
As percepções sobre a intensificação dos fenômenos, contudo, são paralelamente consistentes, com dois terços (63%) dos entrevistados globalmente acreditando que as ondas de calor estão se tornando mais severas, seguidas por inundações (56%). Ambos “campos” também ressaltaram a influência direta que um tem no outro, interseccionando os fenômenos e não observando as drásticas alterações como inversas ou acarretadas por meios distintos.
Como as pessoas veem a cobertura da mídia sobre o clima?
A despeito da alta sensação de desconfiança, grande parte dos que responderam a pesquisa tem uma visão favorável sobre a forma como a mídia cobre eventos climáticos extremos. Elas acreditam mais que a mídia faz um bom trabalho do que um ruim, especialmente em fornecer informações de forma oportuna. Apesar disso, majoritariamente pouco é sentido como esclarecidas as causas e efeitos desta mudança.
Além destes assuntos, foram perguntadas quais melhores ações diferenciam uma cobertura ideal para a que efetivamente é feita. Destaques estão na providência da informação de maneira efetiva (38%), demonstrar a associação de fenômenos a exemplos do dia a dia (31%) e a motivação a prevenir efeitos (29%).
Quantas pessoas politicamente estão preocupadas com as mudanças climáticas?
A maioria das pessoas em todos os países está preocupada com o impacto das mudanças climáticas sobre as pessoas e o planeta. Essa proporção tem permanecido estável nos últimos três anos, refletindo uma certa inércia na preocupação pública, apesar dos desafios climáticos crescentes.
A ideologia influencia as diferenças: em 2024, a preocupação entre as pessoas de esquerda atingiu 91%, caindo para 77% entre as de direita – ampliando a lacuna entre os campos na questão.
As pessoas acham que seu país mais sofre?
As visões sobre os impactos climáticos graves permanecem semelhantes nos últimos dois anos. O Brasil (68%) e o Japão (52%) registraram aumentos de 10 e 5 pontos, respectivamente, enquanto o Paquistão teve uma queda de 8 pontos (40%).
Mais de dois terços dos entrevistados no Brasil e mais da metade na Índia e no Paquistão acreditam que as mudanças climáticas estão tendo um grande impacto em sua saúde, sem grandes variações desde 2023.
Quem está fazendo o suficiente para enfrentar as mudanças climáticas?
Examinamos as diferenças entre aqueles que acham que diferentes partes interessadas estão fazendo “demais” ou “de menos” para enfrentar as mudanças climáticas. Governos (−33), empresas de energia (−37) e os próprios cidadãos (−39) são amplamente vistos como fazendo “de menos”. Neste momento do levantamento, foi separado um gráfico negativo e positivo para melhor representação da insatisfação e suporte, respectivamente.
Apenas os ativistas e grupos sociais (+10) são vistos como fazendo “demais”. A maioria das pessoas acha que a mídia (-21), que ainda que tenha sido relativamente bem avaliada como confiável para alteração, deveria fazer mais. Essas percepções se tornaram ainda mais comuns desde 2022, analisando como um todo.

Dados totais dos que estão fazendo o suficiente para mudanças climáticas.
O que fazer e o que a mídia deve ser?
À medida que o impacto das mudanças climáticas se torna cada vez mais evidente, é fundamental que a sociedade, e nós jornalistas, permaneçamos vigilantes, atualizados e engajados. A conscientização sobre a urgência desse problema global deve ser constante, e todos os setores têm um papel essencial na construção de um futuro mais sustentável.
A mídia, em sua função de informar e educar, precisa amplificar as vozes da população, especialmente aquelas que clamam por ações concretas e eficazes para combater as mudanças climáticas. A vigilância não se resume apenas à observação, mas à ação. O compromisso com a verdade, a transparência e a busca por soluções deve ser norteadores dentro e fora do profissional. Só assim será possível enfrentar o desafio climático de forma eficaz, atual e duradoura.