Uma espécie de “pedidos de desculpa sobre o esquecimento que as ‘educadoras’ passam”. São destas aspas falas da professora e escritora Sandra R. Coleman, que participa de evento lançando o livro “Merendas e Afetos: Narrativas de Presença e Poder”, no próximo dia 12 de janeiro, no IPCN – Instituto de Pesquisas as Culturas Negras, no Centro do Rio de Janeiro.
Segundo a coordenadora da coletânea de 26 narrativas biográficas produzidas por outras 18 biógrafas negras, as tias e tios da escola são a base da comunidade escolar. E é justamente essa rede de apoio tão sólida na qual o livro, publicado pela editora Revista África e Africanidades, visa dar luz sob viés inédito. O lançamento, que ocorrerá com a presença física de Coleman, vem em mais um instante em uma sequência de trabalhos literários que visam a narrativa de ressaltar a ancestralidade e preservar a memória de profissionais negros nas funções de cuidado e suas importâncias.
Segundo Coleman, esses profissionais, em sua maioria negras e negros, se empenham em contribuir para um ambiente organizado para que a socialização, a convivência e o aprendizado fluam da melhor forma possível. De acordo com Sandra Martins, uma das biógrafas do livro, “Merendas e Afetos” reúne uma angulação ímpar, no campo da Educação, por possibilitar que nosso olhar perceba quem está por trás do título de “tia” ou “tio” da escola, que “pode ser entendido como um título de nobreza” ainda que a simplicidade da alcunha, cada, cause interpretações erroneamente mal vistas. Ela completa frisando em relato à Rede JP: “As tias e tios da escola são a base da comunidade escolar: alimentam e protegem nossas crianças e adolescentes.”
Ela junto à também biógrafa Ana Gomes remetem a “existência de um vínculo afetivo e não a uma hierarquia imposta”. Para além da perspectiva laboral, esses profissionais trazem para seu cotidiano o afeto para com seu público: as crianças e adolescentes que, muitas vezes só tem aquela alimentação como garantida, tal como pode ter ocorrido com quem o atende.
Entre os diversos olhares que podemos ter sobre Merendas e Afetos, o perfil desses profissionais, pessoas negras e pobres, com idades distintas, como as merendeiras, que preparam os alimentos a serem servidos no intervalo de recreio para os alunos. De acordo com prefácio da professora Nilma Lino Gomes, “um pequeno descanso para os docentes e discentes durante o dia intenso de atividade escolar”.
Diz a autora Catia Cristo – doutora em Educacao- Unirio -, professora da SME Duque de Caxias e coordenadora da rede carioca de etno-educadoras negras da universidade Unirio.
“‘Merendas e Afetos’ nasce de um convite s ver com outros modos de olhar, nasce de ouvir, com outros modos de escutar, nasce de um sentir e pensar, com outras formas de se humanizar.”
Já Ana Maria da Costa Domingos, merendeira e graduada em gastronomia com especialização em culinaria francesa, revela a felicidade em ver a profissão das merendeiras ganhando protagonismo.
“Achei de grande valor e delicadeza abrir essa oportunidade da escrita deste livro sobre merendeiras, tias de creche, porteiros. E uma grande voz para que tidos abram os olhos para verem que estamos aqui e a grande importância de nossas funções.”
Por fim, parte do prefácio do livro, desenvolvido por Nilma Lino, que nos dá uma lição sempre importante.
“As narrativas mostram as dificuldades dessas mulheres no enfrentamento à pobreza (…). “Profissões que merecem todo nosso respeito. Mas a sua existência e resistência na organização laboral da nossa sociedade merecem nossa reflexão. Não é natural que essas ocupações sejam desempenhadas historicamente pelas mulheres negras. Ha algo nessa repetição que remete ao racismo estrutural, ao patriarcado e ao capitalismo. Uma tríade perversa.”
O livro pode ser adquirido através do link abaixo para compra. Também já está disponível no YouTube uma live na qual é debatido o assunto, a obra e todas as angulações abraçadas. Ela pode ser conferida por aqui.
Serviço: Lançamento do Livro “Merendas e Afetos”
Foto de Sandra Coleman.
Dia: 12/01/2025 – 11h da manhã;
Local: Sede do IPCN: Rua Mem de Sá, 208 – Lapa – Rio de Janeiro;
Presença de: Sandra R. Coleman (organizadora da coletânea) Editora Revista África e Africanidades;
Entrada: Franca.
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