O jornalismo, no Brasil e no mundo, enfrenta desafios complexos e diversos. Mudanças tecnológicas, polarização política e a busca por sustentabilidade financeira refletem tendências globais que tempos moldam o setor. Em 2025, esses cenários podem alcançar um ponto de consolidação, indicando os rumos possíveis para o futuro da comunicação.
Baseado nisso, a Rede de Jornalistas Pretos apresenta um panorama que, embora não contemple todas as tendências, destaca as principais. Essas tendências servem como ferramentas para que profissionais analisem e aprimorem suas práticas, além de oferecerem à população civil um instrumento para observar como a comunicação influenciará os temas que pautarão sua vida e o debate público em 2025.
Um estudo primordial nesta análise foi o “Scenarios for the Future of Journalism”, realizado pela Stimuleringsfonds Voor de Jornalistiek, da Holanda. Embora pareça distante, o levantamento compilou realidades da Europa e outras nações, contemplando questões centrais que afetam o papel do jornalismo na sociedade mundial e, sobretudo, brasileira, enfoque fornecido particularmente nesta seleção de temas de tendências que a Rede JP escolheu frisar.
Adaptação Tecnológica e Novos Hábitos de Consumo
O uso massivo de redes sociais e dispositivos móveis transformou o acesso à informação no Brasil, com plataformas como WhatsApp, Instagram e TikTok ocupando um espaço central no consumo de notícias. Recente levantamento da Reuters, traduzido pela Rede em primeira mão aqui em nosso site quando publicado, reforça não apenas um novo hábito de acompanhamento, mas também esmerilha aos poucos um novo grande território cujos profissionais devem estar atentos.
O território dos algoritmos que priorizam cliques em vez de qualidade e a disseminação de desinformação em larga escala, que exige dos profissionais e veículos bases sólidas de combate às fake news. E, paralelamente, de um público fidelizado a uma organização não apenas de farto conteúdo, mas de confiança. No Brasil, a transição do jornalismo para o digital segue intensa, com veículos tradicionais como Globo e Folha investindo em modelos de assinatura digital e conteúdos multimídia. No entanto, ainda há resistência de parte do público em pagar por notícias, uma barreira que também foi identificada no estudo holandês.
Resumindo, o primordial método é transpor a acessibilidade das notícias pelo veículos e o investimento em massa para a utilização digital em, se não a maioria, grande parte dos conteúdos. Políticas de rentabilidade devem ser analisadas de acordo com o conteúdo e o público-alvo de cada instituição, claro, mas é óbvio que o caminho do full digital já é uma tendência cravada para 2025.
Declínio da Confiança nas Mídias Tradicionais
Assim como na Holanda, a confiança na mídia brasileira tem diminuído, especialmente em meio à polarização política. O próprio levantamento da Reuters, anteriormente, citado demonstra uma leva substancial de quebra de confiança.
A desinformação contribuiu para esse declínio, enquanto o público busca fontes mais próximas e confiáveis, como iniciativas colaborativas que unem jornalismo e ciência. Um dos segredos para a retomada da confiança é a criação de parcerias entre polos de maior tendência à credibilidade por parte do público. Não obstante, identificação. A confiança perpassa pelo identificar, de acordo com o próprio levantamento holandês. Projetos e parcerias de instituições como a Rede JP se destacam ao construir pontes entre comunidades marginalizadas e o jornalismo, promovendo a diversidade e o combate à desinformação, um norteador à isto.
Modelos de Negócios em Transformação
O modelo de receita baseado em publicidade tradicional está em declínio, tanto no Brasil quanto internacionalmente. Grandes plataformas, como Google e Meta, concentram a maior parte das receitas publicitárias digitais, dificultando a sobrevivência de veículos menores.
Em resposta, iniciativas brasileiras têm explorado estratégias diversificadas, como eventos, newsletters pagas e crowdfunding e criação de cursos e espaços de networking financiados por quantias mensais, cujas recompensas servem como aprimoramento técnico e acadêmico à área de atuação, investimento crasso para futuros jornalistas que não apenas querem obter títulos mas se sedimentarem em coberturas e atuações específicas. A Rede JP, por exemplo, aposta na promoção de profissionais diversos e no fortalecimento de redes colaborativas para enfrentar os desafios do setor.
Oportunidades no Jornalismo Local e Exterior
No Brasil, a precariedade do jornalismo regional é alarmante, com diversas cidades sem cobertura jornalística qualificada. Esse problema reflete uma tendência identificada na pesquisa holandesa, onde regiões menores enfrentam escassez de notícias relevantes. Iniciativas como rádios comunitárias e coletivos independentes têm surgido como alternativas para manter a sociedade informada, conectando-se com comunidades específicas e ampliando vozes historicamente invisibilizadas.
O combate ao chamado “deserto de notícias” é um caminho para as tendências. Em um mundo cada vez mais globalizado, o investimento a projetos de cobertura e suporte ao jornalismo comunitário e até de efetiva fundação do mesmo como iniciativa paralela a um veículo tradicional de uma mesma organização além de permitir novas regiões como protagonistas nos noticiários e na comunicação, rega a informação plena.
Práticas de Possibilidade ao Brasil
Quatro cenários explorados no estudo holandês oferecem insights aplicáveis ao Brasil, especificamente. Eles juntos entram na área de cobertura e representatividade jornalística, sem deixar de lado a penetratividade de suas ações e tendências ao público.
• Wisdom of the Crowd (Sabedoria das Massas) – Coletivos independentes e iniciativas ganham destaque, reforçando o jornalismo colaborativo e financiado pela sociedade.
• A Handful of Apples (Um Punhado de Gigantes) – O domínio de grandes plataformas como Google e Meta cria um ecossistema onde o jornalismo depende de intermediários tecnológicos para alcançar o público.
• The Shire (A Vila) – Crescem iniciativas locais e comunitárias que priorizam narrativas regionais, com ênfase em engajamento direto e público segmentado.
• Darwin’s Game (O Jogo de Darwin) – Veículos tradicionais buscam se reinventar para reconquistar relevância, investindo em transparência, personalização e conteúdos interativos.
A multidiversidade de formato
O setor de notícias está enfrentando o mesmo problema que já ocorreu em outros setores: os produtos estão sendo desagregados e são multidiversos. Enquanto no passado os jornais eram vendidos como um pacote total, novos serviços agora estão vendendo seções separadas. Os leitores procuram seletivamente suas notícias, no jornal de um dia, mas não no seguinte. A tendência atual de desagregação obriga os jornais a pensar em escalas ainda menores.
A disponibilidade de artigos separados nas mídias sociais (Twitter, Facebook) faz com que os usuários cliquem com mais frequência em artigos separados de diferentes títulos de mídia, sendo menos leais a um título específico. Se as pessoas são menos leais aos títulos, os jornalistas precisarão se tornar uma marca e se representar nas redes sociais — em várias delas, respeitando cada qual seu público — e sedimentando uma marca, um nome.A maneira e o grau em que o “conteúdo gerado pelo usuário” (informações fornecidas pelos usuários de mídia) pode ser misturado com o jornalismo profissional não estão claros e criar uma solidez adaptada às redes, sem perder a essência jornalística, é o ideal.
O investimento na imagética
O vídeo pode ser feito de forma rápida e barata e é uma crescente enorme no consumo de informações. As produções estão se tornando multimídia e não pode serem somente lidas, precisam serem compreendidas.De acordo com a Cisco, três quartos do tráfego em telefones móveis e tablets, em cinco anos, serão compostos por vídeo. A oferta transmedia de informações está aumentando: uma história se desenvolve por meio de vários canais de mídia e cada canal faz sua própria contribuição para o enredo total.
Isso é facilitado porque muitos textos, dados e vídeos são feitos em pequenas partes e podem ser divididos, permitindo que várias histórias sejam geradas e personalizadas a partir desse material básico.
A importância crescente do jornalismo na democracia
Como aponta o estudo, a perda de relevância do jornalismo automaticamente enfraquece a democracia. No Brasil, onde a desinformação já impactou eleições e políticas públicas, o papel da mídia em oferecer informações confiáveis é mais crucial do que nunca.
Redes como a Rede JP que priorizam a diversidade e a inclusão, são fundamentais para reverter esse cenário, promovendo práticas inovadoras e mais representativas. Reconhecer que o jornalismo no Brasil vive um momento de transformação é dar a oportunidade de tudo se manter uma rédea ante ao descontrole e a falta de representação do povo na prática jornalística. Para se adaptar ao futuro, é essencial investir na inovação, amplificar vozes diversas e priorizar o combate à desinformação, sem deixar, claro, de adaptar-se onde o público está, pode te ver e tem a oportunidade de conhecer e retornar sobre o trabalho.
A conexão com tendências globais nos oferece uma oportunidade valiosa de aprender com diferentes cenários e construir estratégias que reflitam a pluralidade da sociedade brasileira. Identificar as questões mais importantes sobre o futuro do jornalismo perpassa editores, sindicatos, jornalistas e formuladores de políticas, mas chega também à população, ao interesse público.
O que podemos fazer?
A enorme lista de tendências sugeridas foi categorizada e dividida em tendências que sinalizam um questionamento? De que forma os profissionais estão mais pertos de um jornalismo mutante, que segue o mundo, ou de um jornalismo que paradoxalmente, se diz acompanhar o hoje mas parou no tempo em representação, multidimensionalidade, formatação e tecnologia.
Compreender essa análise e daí perceber a que ponto podemos nos atualizar constantemente é a grande chave para nossa área profissional e para o mundo e a sociedade. Afinal de contas, ninguém muda e traz à tona representação ao que a sociedade pede sem saber onde ela está e como se comporta. E que o próximo ano seja mais um passo em direção a esta constante busca.
Texto e edição final por Kelvyn Araujo, pauta, argumento e redação inicial por Marcelle Chagas.
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