Parte do veículo jornalismo Alma Preta
Recentemente, o país mais que nunca foi tomado pelo espírito olímpico. Com o evento das Olimpíadas de Paris mais difundido que nunca, sob uma pulverização de emissoras, canais e equipes de transmissão, a grande maioria dos jogos, competições foi não apenas transmitida com grande lastro de alcance mas em distintos meios através de vários profissionais.
Neste interim, ainda assim foi reservado um espaço patente de vanguardismo e representatividade. Em especial, brasileiro e preto. Isso porque o veículo jornalístico Alma Preta Alma Preta, agência noticiosa dedicada à retratar a realidade brasileira através das lentes de jornalistas negros, se consolidou como a primeira mídia negra independente brasileira credenciada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e pelo Cômite Olímpico Brasileiro (COB) para cobrir as Olimpíadas de Paris 2024, iniciadas em 26 de julho e encerradas em 11 de agosto.
Com a cobertura in loco, houve aumento de 64% nos registros de visualizações diárias no site durante a primeira semana do evento. O projeto, contante em parceria da agência especializada em diversidade social DiversaCom, se tornou uma válvula optativa para os que pouco estavam interessados em acompanhar o evento sob mídias ditas “tradicionais”. Um sabor especial foi reservado à equipe até, considerando a forte presença negra nas conquistas de medalhas nos pódios deste ano. Nacional e internacionalmente.
Elaine Silva, CEO do veículo jornalístico Alma Preta
Baseada na conquista, a Rede Jornalistas Pretos pela Comunicação conversou com Elaine Silva, sócia e diretora do Alma Preta, que fez uma análise bem profunda a respeito das conquistas da equipe e deu detalhes do significado de distintos pormenores da cobertura olímpica.
Qual a importância, a seu ver, de termos uma mídia negra independente na cobertura das olimpíadas?
“A presença da mídia negra independente na cobertura das Olimpíadas é fundamental, pois democratizamos a informação a partir da visão de profissionais negros. Essa vivência de quem narra as histórias está muito mais próxima da trajetória que os atletas brasileiros tiveram em sua vida para chegar naquele lugar e isso enrique as histórias que estão sendo contadas, por meio do cuidado com a fonte e a conexão que os atletas têm ao ver pessoas negras contando suas conquistas ou dificuldades.”
Vocês já tinham tentado antes o credenciamento? Como se deu o processo até a efetiva escolha?
“Essa foi a primeira vez que a Alma Preta Jornalismo realizou credenciamento. Durante o processo, a agência não teve problemas para fazer o mesmo.”
Ter o aumento de audiência mostra a importância da mídia liderada por negros estar presente em grandes eventos. Quais outros eventos vocês acham que a mídia negra deveria estar presente e que hoje não está?
“Honestamente todos os eventos devem contar com mídias negras. Elas conversam e falam sobre 56% da população brasileira, ou seja, sua maioria. Por isso, se há interesse público no evento, é mais do que coerente e necessário a mídia negra estar presente.”
Qual recado o Alma Preta, um dos mais bem sucedidos cases de jornalismo, manda para outros produtores de veículos e iniciativas liderados por negros no país?
“Apesar das dificuldades, sejam ousados. Os espaços (eventos, conferências e outros) mais importantes não nos imaginam os ocupando. Por isso, é fundamental que a gente fure a bolha e mostre a potência da mídia negra, para que outras mídias do nosso movimento se sintam confortáveis e encorajadas a fazer jornalismo em qualquer espaço.”
Criado em 2015, o grupo Alma Preta é uma agência de jornalismo que aborda a realidade brasileira através da perspectiva de jornalistas negros, produzindo conteúdo em diversos formatos sobre temas como segurança, direitos humanos, cultura, política e comportamento. A agência rejeita a ideia de jornalismo neutro ou imparcial, optando por um trabalho posicionado e transparente que busca revelar a complexidade dos acontecimentos e suas contradições.
Leave A Comment