Por Ranieri Soares
Um estudo conduzido pelo Reuters Institute expôs a disparidade racial dentro dos meios de comunicação. A pesquisa investigou a presença de pessoas negras em cargos de liderança em uma seleção representativa dos 100 principais veículos de comunicação online e offline em cinco mercados distintos distribuídos por quatro continentes: Brasil, Alemanha, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos.
Ao analisar uma amostra de dez dos principais meios de comunicação online e dez dos principais meios de comunicação offline em cada um destes mercados, verificou-se que apenas 23% dos 81 editores-chefes são pessoas negras. Isso é significativamente menor que a média de 44% da população geral desses cinco países. Se excluirmos a África do Sul e focarmos, a representação de editores-chefes negros cai para 11%, enquanto a média da população negra é de 31%.
Nos principais veículos analisados no Brasil e na Alemanha, não havia nenhum editor-chefe negro, mantendo a mesma situação de 2022. No Reino Unido, apenas 6% das posições de liderança editorial são ocupadas por pessoas negras. Nos Estados Unidos, a proporção de editores-chefes negros permaneceu estável em 33%, o mesmo índice de 2022. Já na África do Sul, houve um aumento de 7% em comparação aos 73% registrados anteriormente.
A pesquisa menciona que, em todos os países analisados, a percentagem de pessoas negras na população em geral é maior do que entre os principais editores. Em quatro países analisados, a relação entre a porcentagem de jornalistas negros e suas posições de liderança editorial não é direta. Enquanto no Brasil e no Reino Unido, há menos editores-chefes negros do que jornalistas negros. Na África do Sul e nos Estados Unidos, há mais editores-chefes negros do que jornalistas negros.
A quantidade de pessoas que leem notícias online de pelo menos um grande veículo de comunicação liderado por um editor negro varia significativamente entre países. Enquanto no Brasil e na Alemanha essa porcentagem é de 0%, na África do Sul chega a 91%.
Pesquisa mostra forte desigualdade racial na grande mídia brasileira
Pesquisa conduzida pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa (Gemaa) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) mapeou o perfil dos profissionais responsáveis pela redação nos três principais jornais impressos do Brasil: O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo e O Globo. Os resultados revelam que a mídia brasileira ainda reflete fortes disparidades raciais.
A pesquisa contou com a colaboração da Rede de Jornalistas Pretos pela Diversidade na Comunicação, associação dedicada a combater a falta de oportunidades para profissionais negros neste mercado.
Desafios da diversidade: impacto da liderança no jornalismo
A pesquisa do Reuters Institute lembra que os líderes das grandes organizações de mídia ocupam cargos de grande importância, tanto em termos práticos quanto simbólicos. Para o público, essas pessoas representam não apenas a própria empresa, mas também toda a indústria da mídia. Como principais responsáveis pela direção dos meios de comunicação, os editores-chefes tomam decisões que moldam a produção e distribuição das notícias nas redações.
Os desafios enfrentados pelos jornalistas negros na indústria midiática não diferem muito dos enfrentados em outras áreas. No entanto, é fundamental reconhecer o poder das organizações de mídia em influenciar e moldar as percepções e visões de mundo das pessoas. É muito importante lembrarmos que essas organizações lucram com o trabalho de profissionais negros, muitas vezes ocupando cargos inferiores, e que enfrentam dificuldades devido à precarização dos direitos e leis trabalhistas.
A ausência de pessoas negras em posições de liderança editorial contribui para a persistência do racismo sistêmico. A composição racial e étnica das lideranças nas redações pode impactar a diversidade na contratação, retenção e promoção de profissionais, além de influenciar o conteúdo. Isso afeta diretamente a tomada de decisões editoriais e a atenção dada às histórias e experiências que refletem as comunidades servidas pelas organizações de notícias.
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