A pesquisa “Empreendedoras e seus negócios 2023”, realizada pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora e executada pelo Instituto Locomotiva, revela que 61% das empreendedoras negras iniciaram seus negócios por necessidade. O estudo apresenta o perfil das empreendedoras brasileiras. Entre as entrevistadas a predominância é de mulheres negras (82%), da região sudeste (44%), de 30 a 45 anos (43%).
Ainda de acordo com a pesquisa, as empreendedoras brasileiras são majoritariamente da classe D e E, concluíram o ensino fundamental, começaram a empreender após a maternidade e não possuem CNPJ. Segundo as entrevistadas, a informalidade se deve à falta de dinheiro para pagar os custos inerentes à formalização. Principalmente, entre as mais jovens, de classes DE e com tempo de negócio de até dois anos.
A fundadora da Rede Mulher Empreendedora e do Instituto Rede Mulher Empreendedora, Ana Fontes, acredita que a pesquisa é essencial para que ocorram transformações nesse cenário. “A gente entende, na Rede e no Instituto, que temos um papel fundamental, mas sozinhos não vamos conseguir resolver. Então precisamos de políticas públicas de acesso a crédito com linhas de crédito focado em mulheres”, explica.
Recorte racial: empreendedoras negras x empreendedoras não negras
O cenário não é igual para todas as mulheres. De acordo com os dados da pesquisa, mulheres não negras possuem uma trajetória com menos obstáculos se comparadas às mulheres negras. Segundo o estudo, 65% das empreendedoras brasileiras são negras, a maioria é jovem, das classes CDE e se concentram no norte do país. Elas começaram a empreender por necessidade e tem um faturamento menor. Já as mulheres não negras, se concentram no sul do país, são mais velhas, das classes AB, possuem um faturamento maior e começaram a empreender por oportunidade.
Nesse contexto, o perfil de mulheres que deram início a um negócio por necessidade é majoritariamente de mulheres negras, de baixa renda, baixa escolaridade (ensino fundamental completo), que começaram a empreender após a maternidade e tem um negócio de até 2 anos. As empreendedoras que iniciaram um negócio por oportunidade são das classes AB, não negras, têm ensino superior, têm o negócio há mais de 5 anos e começaram a empreender antes da maternidade ou não têm filhos.
Para Ana Fontes, esse resultado expõea a situação vulnerável do país, já que o Brasil é majoritariamente negro. “As diferenças vão aumentando e as dificuldades vão ficando maiores à medida que você tem mais marcadores sociais. É uma situação que infelizmente é triste, mas é importante ter esses dados para que a gente consiga mudar esse jogo”, comenta.
Diferenças regionais
Além das disparidades raciais, é possível observar um desequilíbrio entre as empreendedoras de diferentes regiões do país. A maior parte das mulheres que empreendem no Brasil estão no sudeste, em segundo lugar estão as mulheres da região nordeste. Entretanto, a formalidade é maior entre as mulheres do sul e sudeste, enquanto 7 entre 10 mulheres do norte e nordeste trabalham na informalidade.
Desafios para empreender e Saúde mental
Um dos maiores desafios enfrentados pelas empreendedoras é conciliar os trabalhos de cuidado com a casa e família e administrar os negócios. Fazer essa conciliação foi o que motivou 8 em cada 10 empreendedoras a abrir o próprio negócio. No entanto, 60% se sentem sobrecarregadas pelo acúmulo de cuidado com família/casa e trabalho.
Entre as entrevistadas, 84% concordam que essa sobrecarga de trabalho atrapalha mais a elas do que os homens que buscam empreender e apesar de considerar que seus parceiros (as) são incentivadores (as), a maioria acredita que deveria ocorrer um auxílio maior na distribuição de tarefas de cuidado com casa e família.
Os problemas financeiros são outro desafio na trajetória de mulheres empreendedoras. Apenas 1 em cada 10 consegue ganhar dinheiro suficiente para investir em outras coisas além das despesas básicas do empreendimento e contas pessoais. O baixo rendimento e a dificuldade de cobrir os custos do negócio é um dos fatores que leva muitas empreendedoras a recorrer a empréstimos bancários. Sendo que 73% possuem dívidas e 43% têm alguma dívida atrasada. Além disso, problemas relacionados ao financeiro foram apontados como principais motivos para o fechamento de negócios anteriores.
Outro fator abordado pela pesquisa é a saúde mental e o bem estar de mulheres empreendedoras. Diante das dificuldades e desafios enfrentados em sua jornada empreendedora, 7 em cada 10 entrevistadas afirmaram já ter sofrido alguma crise de ansiedade, depressão ou outro problema de saúde mental.
Rede Mulher Empreendedora
A Rede Mulher Empreendedora atua há 13 anos apoiando o desenvolvimento de mulheres empreendedoras através de uma variedade de cursos, programas e capacitações. Esses projetos auxiliam na construção de habilidades socioemocionais que inclui educação, negociação, comunicação e liderança. Os projetos também focam em educação financeira e orientações que vão desde como iniciar um negócio até estratégias para aumentar as vendas e ampliar a visibilidade.
Além disso, a Rede realiza doações que variam de mil a dez mil reais e conta com um time de 900 mentoras voluntárias que oferecem mentorias personalizadas para empreendedoras de todas as regiões do país. As mentorias também são uma forma de construir uma rede de apoio e conexão entre as empreendedoras.
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