Conhecido por sua diversidade, o Brasil ainda figura como um país de enormes desigualdades raciais. E isso fica ainda mais evidente quando se trata do mercado de trabalho, uma vez que posições sênior se concentram nas mãos de pessoas brancas, líderes na maioria das grandes empresas e agentes principais nos espaços de influência e poder. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), do IBGE, o número de autodeclarados pretos e pardos é de 55,9%, enquanto os brancos chegam a 42,8%. No entanto, pessoas brancasocupam69% dos cargos gerenciais, enquanto apenas 29,5% dos afro-descendentes (grupo composto pela soma de pretos e pardos) detêm o mesmo nível hierárquico.
Com o fortalecimento global da luta antirracista, a conscientização sobre a necessidade e o papel de medidas reparatórias na luta contra as desigualdades ganhou impulso nos últimos anos entre as grandes empresas. Várias delas vêm promovendo mudanças estruturais, especialmente na gestão de pessoas. Mais do que apenas focar na contratação de profissionais afrodescendentes, as corporações estão elaborando mecanismos para desenvolver o pleno potencial destes talentos, tornando-os aptos a ocupar cargos de liderança.
É o caso da Bayer que, desde 2020, já formou mais de 170 profissionais negros no Brasil com suas iniciativas de liderança, mentoria e capacitação profissional, de acordo com Rodrigo Pimentel, Líder de Segurança e Saúde para Bayer Latam e Business Partner de Sustentabilidade, Segurança, Saúde e Meio Ambiente para Bayer Farma Latam.
“Nós somos o país que mais demorou — ou que por mais tempo, melhor dizendo —, manteve a população negra escravizada. Esse é um fato e um denominador histórico importante para que a gente tenha essa estrutura de racismo característica no nosso país”, diz. “Esses fatores diferenciam a forma como nós trabalhamos a inclusão e retenção de líderes negros no Brasil em termos de urgência, velocidade ou proposição em comparação a outros países”.
Foi com isso em mente que a empresa lançou uma série de iniciativas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I). Atualmente, a Bayer conta com quatro programas voltados exclusivamente para profissionais negros, dois dos quais têm foco específico em mulheres. Lançado em 2021, o “B.Afro Delas” proporciona o desenvolvimento e aceleração da carreira de colaboradoras que demonstram desejo de evoluir e crescer na hierarquia corporativa. A trilha inclui atividades como discussões sobre o protagonismo da mulher negra, identificação dos potenciais de cada uma, desenho de plano de carreira, busca por mentoria dentro da companhia e desenvolvimento de soft e hard skills.
“A gente percebeu que durante esse programa houve momentos incríveis de troca de experiências com mulheres em posições de liderança”, diz. “Mentores e mentoras, líderes da organização, transformando essas mulheres, mas também sendo transformados por serem mentores de mulheres negras em processo de avanço de carreira”.
Estendendo a missão para fora da empresa, o projeto “Ampliando Saberes”, em parceria com a WEConnect International, ofereceu neste ano treinamentos gratuitos para 10 afroempreendedoras, selecionadas dentre mais de 100 inscritas. O programa contou com a mentoria de 20 executivos da Bayer. Foram mais de 100 sessões de mentoria que duraram quatro meses, onde elas aprenderam sobre estratégia de negócios e melhoria de processos.
Para atrair talentos diversos, a Bayer também adota uma política de inclusão no processo seletivo de seus líderes. Por meio do “Liderança Negra”, programa de trainees voltado exclusivamente para pessoas negras, a empresa eliminou exigências históricas, como o domínio do inglês e a formação em universidades específicas, tornando-o acessível a um maior número de profissionais.
Os mesmos cuidados são direcionados aos talentos emergentes. Para reter e qualificar profissionais mais jovens, a empresa criou um programa direcionado aos estagiários e profissionais juniores afrodescendentes que reúne treinamento, consultoria e mentoria. As atividades são realizadas ao longo de três meses.
Além de executivo, Pimentel, um homem negro, é colíder do grupo de afinidade BayAfro, criado na Bayer para promover a conscientização antirracista, iniciativas para profissionais negros e de engajamento entre colaboradores. O grupo atua em outros países onde a companhia opera ao redor do mundo, com participantes de diferentes países atuando para combater as desigualdades específicas em sua localidade.
No Brasil, Pimentel diz que o BayAfro caminha de mãos dadas com o compromisso local da empresa, que busca não só espelhar internamente a representatividade racial do país, mas também as especificidades de cada estado dentro de seus times. “Nós temos diferentes operações no Brasil e a gente efetivamente quer garantir que essa representatividade se reflita na nossa composição, ajude a promover o bem-estar de nossos colaboradores e incentive a inovação”, diz.
Pimentel se mostra otimista em relação ao futuro. Diz que gostaria de ver a sociedade em geral em um amplo nível de engajamento a favor das causas de minorias de direitos. “Nós entendemos, como organização, que ainda estamos num processo de desenvolvimento e evolução”, diz. “Eu acredito fortemente que esse é o desafio: chegar em um nível de maturidade tal que a gente não precise de grupos de afinidade para poder discutir o tema, que, efetivamente, a gente tenha não só o ambiente interno da Bayer, mas o ambiente externo atuando e colaborando em rede”.
*Texto escrito pela jornalista Isabela Rocha, especial para a Bayer.
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