Por: Maria Eduarda Abreu
Os Estados Unidos têm vivenciado uma série de manifestações históricas por parte de jornalistas nos últimos meses, resultado de uma série de mudanças que vem impactando o segmento há anos e indeferido diretamente na rotina produtiva desses profissionais. Com a ascensão de novas mídias e o uso crescente de redes sociais como fontes primárias de informação, jornais tradicionais estão enfrentando dificuldades financeiras e esvaziado as redações.
Como consequência, jornalistas de diferentes veículos têm enfrentado situações de insegurança e instabilidade profissional. O panorama é de demissões em massa, cortes de verbas e benefícios, redução do tempo de programas e baixos salários. A busca por melhores condições de trabalho e valorização profissional foi o que deu início a onda de protestos no país após décadas.
Para o jornalista Edson Cadette, os EUA estão vivendo uma segunda onda de mudanças na maneira como as informações estão sendo distribuídas no país. “A primeira foi a migração da grande mídia para a área digital. Há anos a grande mídia praticamente perdeu a hegemonia de informações. Há uma nova geração de leitores que nem se preocupam mais com as edições impressas dos grandes veículos de notícias. A mudança que vem ocorrendo agora é que as mídias digitais vêm perdendo espaços para o formato newsletter e podcast. Isto tem assustado muita gente dentro das redações”, conta.
Correspondente do Afropress há 17 anos e apresentador do programa de rádio Jammin’Jazz, Edson, acredita que é difícil saber se o que está acontecendo em algumas redações aqui terão algum reflexo na realidade brasileira ou na América Latina. “A grande reclamação por parte dos jornalistas em muitos casos é o salário baixo e a insegurança no trabalho. Os jornalistas reclamam das condições de trabalho e da remuneração abaixo do que eles merecem. Estes fatores podem acontecer em qualquer parte do mundo”, explica.
Ciclo de greves e paralisações
A primeira manifestação no país ocorreu em agosto de 2022 e foi organizada pelos profissionais da sucursal estadunidense da agência britânica Reuters e durou 24 horas, sendo a primeira paralisação da empresa em 30 anos, em dezembro outra paralisação de um dia, dessa vez feita por jornalistas do The New York Times.
Em fevereiro deste ano, semanas após o Post-Gazette entrar em greve, centenas de jornalistas de 14 jornais do grupo Ganett começaram a protestar contra os baixos salários, demissões e cortes de custos. Já nas primeiras semanas de junho 200 jornais diários do conglomerado de mídias entraram em greve. De acordo com o sindicato que representa os jornalistas, a paralisação afetou publicações de mais de seis estados.
O sindicato acusou o diretor-executivo do conglomerado Mike Reed de desmoralizar as redações e impossibilitar que os repórteres tenham recursos para produzir um jornalismo de qualidade. Dentre as ações que geraram a insatisfação dos comunicadores está a demissão de 20% dos jornalistas, licenças não remuneradas e suspensão das contribuições para o regime de aposentadoria.
Cenário do jornalismo no Brasil
No Brasil, as condições de trabalho para jornalistas se assemelham ao cenário encontrado nos EUA e na maioria dos países, fechamento de filiais, redução de pessoal e todos os problemas citados anteriormente também fazem parte da empreitada dos comunicadores brasileiros. Juntas, a Globo e a Folha de São Paulo somam 60 demissões de jornalistas esse ano. Entre abril e maio, 40 jornalistas foram desligados da Rede Globo e 20 da Folha de São Paulo, além dessas demissões a Folha congelou novas vagas para profissionais de imprensa. No mesmo período, o Estadão também realizou demissões.
Diferente dos EUA, os jornalistas brasileiros ainda não realizaram atos de grande impacto em protesto contra a situação que vivenciam atualmente. Apesar disso, em alguns casos há a manifestação de sindicatos e órgãos responsáveis pela defesa desses profissionais e protestos pontuais.
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