*Sandra Roza
Na vida pessoal ou profissional, falar inglês, ou outras línguas, pode abrir portas para novas oportunidades e conexões pelo mundo. Porém, quando analisamos o contexto brasileiro, é possível perceber como nem todas pessoas conseguem acessar o idioma.
De acordo com a pesquisa Demandas de Aprendizagem de Inglês no Brasil, realizada pelo pelo Instituto de Pesquisa Data Popular para a British Council, em 2014, apenas 5,1% da população de 16 anos ou mais afirmou possuir algum conhecimento sobre o idioma, sendo que 9,9% são da classe alta e 3,3% da classe média.
Entre as razões apontadas para não estudar inglês, 65% das pessoas entrevistadas afirmaram que os preços dos cursos são altos, 34% que não tinham dinheiro e 12% demonstraram interesse em iniciar aulas após encontrarem empregos melhores.
Relevante no mercado de trabalho, o inglês é considerado a língua dominante nos negócios internacionais para 91% das pessoas executivas, de acordo com dados da pesquisa Business English/Index Global English (2013).
Se de um lado temos os desafios do acesso ao idioma no país, de outro, temos, cada vez mais, vagas afirmativas ou empresas que desejam alcançar metas de Diversidade e Inclusão, exigindo o inglês fluente ou avançado, seja para cargos iniciais ou estratégicos, em que não será necessário se comunicar em outro no dia a dia. Conforme as informações acima, grande parte das pessoas que têm conhecimento em inglês são da classe alta e as que querem iniciar os estudos não possuem dinheiro.
Dessa forma, quando a exigência do idioma é obrigatória, pessoas de grupos minorizados, muitas vezes, são eliminadas dos processos seletivos ou não se inscrevem, principalmente porque estão buscando, primeiramente, o acesso à renda para sobreviver, na maioria das realidades.
Além disso, é importante destacar que há inúmeros discursos meritocráticos que apagam o tamanho desse problema. Por exemplo, considerar que essas pessoas podem aprender apenas com cursos onlines e conteúdos gratuitos na internet. Entretanto, nem todo mundo consegue aprender online, nem todo mundo tem acesso a essas informações ou acesso à internet, por exemplo.
Diante disso, é primordial que as instituições, comprometidas com a Diversidade, Equidade e Inclusão, compreendam que esse problema existe e que elas podem ofertar cursos de idiomas, ao invés de exigir inglês fluente ou avançado. Já as comprometidas também com as agendas 2030, da ONU, e a ESG, também podem estender as formações para as comunidades/regiões onde atuam. Entendendo a demanda do mercado de trabalho a Rede JP divulga anualmente bolsas de estudos em inglês.
Destaco também que desde de 2020, venho acompanhando como organizações sociais e privadas começaram a realizar aulas gratuitas e disponibilizar bolsas de idiomas para pessoas de grupos minorizados a fim de que estas conseguissem acessar mais o mercado de trabalho formal.
Há também empresas que realizam as contratações e inserem os estudos de inglês no Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) das pessoas colaboradoras, o que é essencial para a inclusão delas no mercado de trabalho, progressão de suas carreiras e alcance a outras oportunidades profissionais globais, por exemplo.
*Sandra Roza
Coordenadora de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) e Relacionamento Institucional (RI) na Rede de Jornalistas Pretos pela Diversidade na Comunicação (Rede JP), Mestra em Comunicação (UFOP), Jornalista (UFOP) e Especializanda em Comunicação Estratégica na Sociedade 5.0.
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