*Sandra Roza
Recentemente, ministrei a aula Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) no Jornalismo Brasileiro, do curso de extensão: “Cidadania e Comunicação: Diversidade, inclusão e novos formatos no jornalismo pós-cultura digital” – coordenado pelas professoras Marcelle Chagas (UFF) e Ivana Bentes (UFRJ). Bom, no momento em que fiz o planejamento de conteúdos, decidi trazer um conceito importante: grupos minorizados.
Embora a DEI venha se tornando um tema mais popularizado na sociedade, ainda há muitas pessoas que não sabem o que a sigla significa nem a palavra grupos minorizados. Mas antes de entender mais, é necessário resgatar o significado de “minorias”, que, para muitos, simboliza que são grupos com baixa representação social, ou seja, composto por poucas pessoas.
Porém, de acordo com o jornalista e sociólogo, Muniz Sodré, a palavra refere-se “à possibilidade de grupos sociais terem “voz ativa ou intervirem nas instâncias decisórias do Poder, aqueles setores sociais ou frações de classes comprometidas com as diversas modalidades de luta assumidas pela questão social”. (SODRÉ, p. 1, 2005).
Para entender melhor, apresento alguns dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos anos 2021 a 2023, sobre a população brasileira, que é composta por: 56% de pessoas negras; 51% de mulheres (sendo 28% mulheres negras), 12% de pessoas LGBTAQIA+ (Unesp e USP, 2022), 8,4% de pessoas com deficiência (9,9 % mulheres e 18,2 % pessoas negras), 1% de pessoas amarelas, 0,8% de pessoas indígenas.
Em contrapartida, os dados sobre representatividade nas esferas do Poder apresentam que: homens brancos representam 20% da população, 705 mil deles detêm a renda de 15% da renda do país (USP, 2021), 1% dos homens brancos mais ricos têm renda média mensal de R$ 114.944,50 – valor maior maior que o recebido por 32,7 milhões de mulheres negras (R$ 1,6 mil) (USP, 2021), 80% dos homens brancos estão em cargos de lideranças nas empresas e 63% estão no congresso nacional.
Todas as informações acima mostram como há uma realidade totalmente diferente entre a população brasileira, quem ocupa os espaços de Poder e decide pela maioria da população. Nesse ponto, é válido apresentar também o termo “Maioria Minorizada”, do cientista social e professor Richard Santos (2020). A expressão foi desenvolvida pelo pesquisador para pensar e analisar as produções midiáticas sobre a população negra, muitas vezes, colocada como um grupo racial com poucas pessoas no Brasil.
Dessa forma, a força da linguagem, se mostra aqui, importante para perceber a diferença quando dizem: “minorias” e “minorizados”. A primeira palavra traz passividade, submissão, redução. A segunda, traz ação, posicionamento e mostra que estes grupos são colocados/percebidos como menores, mas que não o são, conforme as porcentagens acima.
Pessoas negras, mulheres, pessoas LGBTAQIA+, 8,4% de pessoas com deficiência e pessoas amarelas e 0,8% de pessoas indígenas, entre outros, por exemplo, são pilares da DEI. São os grupos chamados de minorizados. São muitas pessoas, mas que, ainda, não ocupam, como maiorias, os espaços de poder como os homens brancos. Nem possuem a mesma renda mensal.
Conseguiu compreender a relevância da linguagem? Ao invés de “minorias”, troque o vocabulário para grupos minorizados.
*Sandra Roza
Coordenadora de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) e Relacionamento Institucional (RI) na Rede de Jornalistas Pretos pela Diversidade na Comunicação (Rede JP), Mestra em Comunicação (UFOP), Jornalista (UFOP) e Especializanda em Comunicação Estratégica na Sociedade 5.0 (HSM University).
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