Por: Maria Eduarda Abreu
A trajetória de todo profissional iniciante é cercada por desafios e altos e baixos. O olhar esperançoso para cada nova descoberta no curso recém terminado esbarra nas expectativas e inseguranças sobre o futuro. É assim também no jornalismo. Quando Lorena Golarte entrou na faculdade tudo era novidade e suas experiências durante as aulas aumentavam sua paixão pela futura profissão. Para ela, o curso transformou seu olhar com relação à comunicação no Brasil e a importância da representatividade. “Eu não escolhi o jornalismo, o jornalismo que me escolheu. Eu nunca me vi representada nesse âmbito da comunicação, mas ao longo do tempo fui percebendo como as pessoas pretas precisam estar nessa área de formação e como elas são necessárias”, conta.
Depois de formada, a realidade transformou seu entusiasmo em desânimo. Apesar de hoje estar empregada, o caminho da jornalista não foi nada fácil. Segundo Lorena, foram noites em claro procurando vagas e enviando currículo sem nenhuma resposta. “Isso me frustrava muito, porque uma coisa é você receber um não e outra coisa é você ser ignorada. Eu passei muito pelas duas coisas. Mas nunca parei de tentar, nunca desisti do que eu estava buscando”, explica.
Embora não tenha desistido do jornalismo, Lorena vive um constante dilema sobre continuar ou mudar de área. “Entramos na faculdade, temos várias expectativas, vários sonhos, mas a realidade uma hora chega e às vezes é esmagadora. É uma mistura de várias emoções, um dia você está mal , no outro você está bem. Mas é aquilo, pensar que tudo pode melhorar, que não foi por acaso que a gente escolheu essa área. Não foi por acaso que o jornalismo me escolheu”, conclui.
Curso com maior número de formados arrependidos
Uma pesquisa recente da ZipRecruiter revelou que a graduação em jornalismo ocupa o primeiro lugar entre os cursos com maior número de recém-formados arrependidos. O estudo norte-americano, realizado em 2022, apontou que 87% dos jornalistas em busca de emprego não estão satisfeitos com o cenário que encontram depois de formados. Apesar do levantamento ter sido realizado nos EUA, a realidade no Brasil não é diferente. A frustração surge do encontro com um mercado de trabalho desfavorável. Os profissionais têm que enfrentar a desvalorização da profissão, redações cada vez mais enxutas e os baixos salários somados à grande concorrência em um mercado exigente. Depois da dificuldade em se inserir no mercado de trabalho, outra preocupação constante desses profissionais é como se manter empregado após a contratação. Poucos recém-formados conseguem garantir a vaga por mais de um ano. Com as incertezas e a falta de estabilidade a solução encontrada por muitos para pagar as contas é se aventurar em outras áreas ou em jornadas duplas de trabalho.
Desafios no mercado de trabalho
A recém-formada em jornalismo, Sabrina Roza, ainda não consegue atuar de forma integral com o jornalismo, por isso realiza trabalhos como freelancer e se aventura em outras áreas fora da comunicação. Atualmente ela se divide entre o trabalho com organização de buffet e as produções como freelancer. Segundo Sabrina, a busca por trabalho fixo na sua área de formação é constante. Para isso ela pesquisa oportunidades nas redes sociais, em grupos de empregos e no LinkedIn. Apesar do empenho, a baixa expectativa em relação a profissão faz com que a jornalista já esteja visando outra área de atuação. “Áreas como de tecnologia, por exemplo, que tem mais oportunidades de crescimento e empregos”, explica. O maior desafio para Sabrina Roza é ser aprovada em outras etapas após a avaliação do currículo. “Vejo que há vagas, porém a maioria pede muitos requisitos e é destinado a uma única pessoa com várias funções e um salário muito baixo. Muitas empresas até avaliam o currículo, mas depois não consigo continuar no processo seletivo”, conta a jornalista.
O jornalismo digital pode ser um caminho
Por outro lado, o universo digital tem mostrado que o jornalismo pode se reinventar já que as novas tecnologias têm transformado a forma de produzir e divulgar informações trazendo os jornalistas para mais perto do digital. Dessa forma, as possibilidades de áreas de atuação são ampliadas. O jornalista pode trabalhar com produção de conteúdo para sites e redes sociais, marketing digital, jornalismo de dados, planejamento de conteúdo para empresas e organizações na internet, entre outras possibilidades. Segundo dados divulgados pelo Atlas da Notícia, no Brasil as redações que produzem em formato digital somam 34%. Além disso, empresas de todos os setores também estão realizando sua comunicação institucional através de sites e redes sociais. Dessa forma, muitas vagas na área ficam destinadas a esse nicho. Entre os exemplos de jornalismo digital ganham destaque o jornalismo de dados e o brand journalism ou jornalismo de marcas. O jornalismo de dados utiliza uma grande base de dados para produzir conteúdos focados na correlação de informações, além de usar recursos gráficos e interativos para tornar a experiência de leitura mais agradável.
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