Conheça as redes lideradas por jornalistas negros ao redor do mundo e que atuam através de parceria internacional
Por: Maria Eduarda Abreu
Profissionais de comunicação ao redor do mundo têm se organizado como forma de driblar as dificuldades enfrentadas durante a vida profissional. Entre elas a discriminação, a baixa representatividade nas redações e o acesso limitado a oportunidades no mercado. Além disso, mesmo quando estão em posições de destaque dentro das empresas e organizações, comunicadores negros são minoria e recebem salários menores que brancos ocupando o mesmo cargo. Essa série de desafios impulsiona a criação de redes de apoio entre esses profissionais.
No Brasil, a Rede de Jornalistas Pretos criada em 2018 desenvolve inúmeras ações em prol da diversidade na comunicação. A organização reúne jornalistas, comunicadores e estudantes de jornalismo negros com o objetivo de ampliar o debate sobre os caminhos para um jornalismo plural e promover a inclusão e visibilidade desses jornalistas nos espaços de comunicação.
Desde a sua fundação a Rede tem realizado diversas atividades que visam fomentar a diversidade e combater o racismo no jornalismo brasileiro. Para isso a iniciativa promove a formação e capacitação de profissionais da comunicação negros através de minicursos, oficinas e workshops, além de oferecer bolsas de estudos por meio de organizações parceiras. Outra contribuição da Rede de Jornalistas Pretos para promoção da equidade racial na mídia brasileira é criação de um banco de currículos para aproximar profissionais negros e organizações empenhadas na construção de uma comunicação mais diversa e representativa.
Redes pelo mundo
Assim como o Brasil, outros países tem redes organizadas de jornalistas negros que lutam por valorização profissional e empregabilidade. Essas redes costumam funcionar de forma colaborativa com ajuda de voluntários e/ou associados, como atuam de forma independente são mantidas através de editais de financiamento, mensalidade de associados, parcerias e doações.
Nos EUA, a associação mais antiga de jornalistas negros existe desde 1975. A National Association of Black Journalists – NABJ (Associação Nacional de Jornalistas Negros) é a associação de jornalistas com maior número de membros no mundo. Em 2021, 46 anos depois de sua criação, a jornalista Sara Lomax-Reese fundou junto com S. Mitra Kalita a URL Media (saiba mais sobre a iniciativa e sua visita ao Brasil), uma rede de jornalistas negros americanos que funciona como uma curadoria online e reúne o conteúdo de diferentes veículos focados em minorias étinicas.
No site a URL Media se define como uma “rede descentralizada e multiplataforma de organizações de mídia negra e marrom”. Além de abordar pautas voltadas à comunidade negra, o projeto também traz conteúdos relacionados a latinos e hispânicos. Ao invés de criar uma mídia nova, as fundadoras decidiram anexar veículos já existentes dedicados ao mesmo propósito. Atualmente 20 organizações são integrantes do site.
O objetivo da URL Média é construir e fortalecer uma rede de veículos feita por minorias e com foco em minorias. A rede compartilha os conteúdos nas plataformas dos participantes, nas mídias sociais e por meio de newletters. A ideia é captar anunciantes e patrocinadores e realizar parcerias com as principais organizações de mídia para que eles paguem para republicar matérias da rede. O lucro obtido deve ser distribuído entre os seus membros. Além disso, profissionais que fazem parte da iniciativa podem trabalhar em projetos conjuntos de reportagem.
No Reino Unido, o We Black Journos tem se dividido desde 2018 entre organizar eventos, tentar diferentes iniciativas para que as pessoas consigam crescer em suas carreiras e divulgar suas ações para ganhar visibilidade e conseguir conectar mais jornalistas negros. Hannan Ajala fundadora do projeto explica que quando iniciou sua carreira seus colegas eram majoritariamente brancos e que está construindo um espaço de rede seguro para jornalistas negros se conectarem, aprenderem uns com os outros e aumentarem sua presença em uma que é indústria predominantemente branca.
“Comecei o We Black Journs para criar uma plataforma importante para celebrar e fortalecer a validade das vidas negras em uma indústria onde tradicionalmente não havia muitos de nós. E porque somos cada vez mais numerosos, é importante que isso seja celebrado, abraçado e normalizado”, disse Hannah.
Segundo a fundadora, as parcerias começaram a crescer após o assassinato de George Floyd no segundo ano da organização. “Estávamos ensinando às pessoas o que elas significam e trazendo jornalistas negros a bordo para expandir ainda mais os pontos e iniciativas que queremos trabalhar para que a diversidade e a inclusão não fique só em palavras, mas seja um estilo de vida. Para que as pessoas entendam melhor porque precisamos estar nos espaços para ter uma representação verdadeira da sociedade que estamos transmitindo no dia a dia”, conta.
Resultados e conexões
Todas essas organizações foram criadas no mesmo ano e são coordenadas por mulheres negras, elas geram impactos a curto e longo prazo para os profissionais negros e para a comunicação, seja através das capacitações que podem acelerar a trajetória profissional aumentando a possibilidade de conseguir um vaga, seja por meio do intercâmbio de conhecimento entre profissionais negros de diferentes áreas dentro da comunicação ou até mesmo levando o debate sobre as questões raciais que permeiam a carreira de jornalistas em diferentes regiões do mundo. ” Temos a nossa tradicional conferência internacional que reúne os jornalistas justamente para pensar como inovar e impactar mundialmente através de nossas perspectivas”, ressalta Marcelle Chagas, coordenadora da Rede JP.
Assim como a Rede JP, a We Black Journos oferece mentorias e oficinas especializadas. As parcerias com universidades também são um ponto em comum entre as duas organizações. Para Hannah Ajala estar presente em diferentes universidades auxiliou a expandir o trabalho entre as comunidades que a iniciativa visava alcançar. Além disso, a divulgação e a parceria trouxe novos seguidores online e visibilidade para jornalistas negros fora do Reino Unido.
Pensando nas vivências similares e possibilidade de troca Hannah acredita que é importante a colaboração de redes de jornalistas ao redor do mundo. “A importância disso é crucial porque todos compartilhamos experiências semelhantes, não compartilhamos as mesmas experiências porque compartilhamos experiências que nos tornaram a minoria e parece diferente em todo o mundo com base em como resistimos e lutamos contra os estereótipos, como nos recusamos a abrir buracos e como estamos fazendo nosso trabalho”, comenta.
Evento realizado Pelo We Black Journaus no Reino Unido
Jornalistas do Brasil reunidos em sua conferência internacional
Recebendo no Brasil os parceiros do URL Media dos Estados Unidos
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