Por: Aline Araújo
No dia 14 de janeiro (sábado), a Rede JP recebeu, no Rio de Janeiro, profissionais da área de comunicação norte-americanas para troca de experiências e fortalecimento da parceria entre as instituições. Marcelle Chagas, fundadora e presidente da Rede JP, fez uma breve apresentação das comunicadoras e ressaltou a importância deste intercâmbio de conhecimento. “O objetivo do encontro, realizado no espaço Kaza 123, foi trazer perspectivas de experiências internacionais e também refletir sobre caminhos trilhados atualmente pelo movimento crescente do jornalismo negro dos diversos lugares do mundo e neste caso, especialmente, nos Estados Unidos” – afirma. Sara Lomax Reese (EUA), fundadora e presidente da mídia preta independente WURD rádio e da URL Media, que participou da primeira edição do Encontro Internacional de Jornalismo em 2021, comentou que acredita que o cenário atual do Brasil favorece o fortalecimento das mídias negras e que por mais que seja um caminho árduo é preciso permanecer atuando na luta.
“A atuação da Rede JP é fundamental para dar apoio e fortalecer o cenário brasileiro. Hoje, nos EUA, nós estamos enfrentando as mesmas lutas e obstáculos mas em momentos e formas diferentes de lidar, mas o fortalecimento institucional é fundamental em todos os lugares – comenta Reese.
Flávia Domingues jornalista independente integrante da Rede JP e que atua com assessoria pautas de impacto social, relatou que muitas vezes aqui no Brasil o colorismo ainda é uma questão controversa ao que Reese complementou afirmando que nos EUA o cenário foi modificado por uma definição oficial com base no DNA. “Nós nos EUA temos uma comunidade negra muito articulada atualmente porque que existe uma definição oficial de que se você tem o mínimo percentual de DNA negro, você é negro, então isso faz com que a comunidade negra seja mais unida neste sentido.” – explica a comunicadora americana.
Nesta troca de experiências, o cenário do audiovisual também recebeu destaque. Para Karen McMullen (EUA), programadora de festivais de filmes como DOC NYC e UrbanWorld, ter profissionais negros atuando em diversas áreas da comunicação que retratam a nossa representatividade é extremamente importante, não somente das divulgações pela imprensa. Eu consigo identificar se um diretor é branco ou negro nos primeiros minutos de um filme. É muito importante quando um filme que conta uma narrativa negra tem um diretor negro, mas também é muito importante que haja um diretor de fotografia negro, um iluminador negro, um roteirista negro, um maquiador negro etc. Profissionais que compõem as diversas áreas do audiovisual são fundamentais para compor a narrativa e exaltar a nossa beleza, talentos e características de forma real e justa – explica McMullen.
Paulo Milano, jornalista e ator, evidenciou a importância do momento. “É muito importante poder trocar experiência internacional de forma presencial sobre a nossa área de atuação” – ressalta o integrante da Rede JP. Sobre a perspectiva da mídia audiovisual, McMullen ainda ressalta que, assim como no Brasil, muitos anos se passaram com negros aparecendo na televisão apenas em caracterizações estigmatizadas pelo racismo estrutural para que hoje seja possível ver protagonismo negro no audiovisual. Antes, quando um negro aparecia na tela era apenas em posição desfavorável, carregada de preconceito e representações sobre a escravidão. Hoje é um outro momento que ainda precisa avançar mas já há um movimento e grande pressão da sociedade para que isso aconteça – afirma a programadora de filmes.
De forma leve e descontraída foram abordados temas diversos sobre educação, obstáculos enfrentados historicamente nas mídias, principalmente, por profissionais negros e, além disso, citados e evidenciados profissionais negres e veículos que vêm se tornando cada vez mais referência no mercado brasileiro já refletindo algumas das mudanças que a sociedade ainda precisa ver mais e em maior escala, mas que já apontam uma direção neste sentido.
” O que vocês estão fazendo agora vai mudar a percepção de outras pessoas vêem as pessoas negras, pois a mídia é uma ferramenta muito poderosa. Eu estou muito feliz de estar aqui, aprendendo muito também. É inspirador.” – finaliza Sara Lomax.
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