Considerado o melhor jogador de futebol de todos os tempos, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, é o maior artilheiro do mundo, com 1281 gols, e foi o jogador mais jovem a vencer uma Copa do Mundo. Sua morte aos 82 anos no dia 29 de dezembro de 2022, tem comovido o Brasil e o Mundo, assim como também levantado questões sobre sua trajetória pessoal e profissional.
Nascido na cidade de Três Corações, em Minas Gerais, Pelé nasceu em uma família humilde e precisou trabalhar como engraxate para ajudar nas despesas familiares. Negro, desde muito cedo precisou achar mecanismos para lidar com os desafios de ser considerado o atleta do século em todo mundo. O livro “Pelé, estrela negra em campos verdes” (Ed. Garamond), da jornalista Angélica Basthi, revela que quando a seleção brasileira conquistou seu primeiro título mundial, o jogador foi o personagem principal de uma reportagem da revista Cruzeiro, na qual ele é comparado à figura folclórica do Saci-Pererê, entre outros fatos relevantes da vida do rei. Há não muito tempo, ao comentar o caso de racismo sofrido pelo goleiro Aranha, em um jogo contra o Grêmio em Porto Alegre (RS) válido pela Copa do Brasil de 2014, Pelé disse que o atleta se precipitou e que se ele tivesse parado todo o jogo em que algum torcedor o chamasse de “macaco” ou “crioulo”, teria que ter interrompido todos os jogos de que ele participou. Diante das contradições a figura do Pelé enquanto ídolo negro é frequentemente contestada.
“O Pelé revolucionou a presença negra no futebol ao lado de outros jogadores negros da Copa de 58. Eu tenho um capítulo no livro que se chama Pretos e Heróis sobre o momento em que os jogadores negros eram considerados como pessoas incapazes, sem inteligência emocional para participarem de um torneio internacional. E o Pelé com o seu drible, inteligência e talento demonstrou que o jogador negro não só sabia jogar bola como podia ser um gênio”, destaca Basthi.
Ainda segundo a jornalista, Pelé merece ser reverenciado, honrado e destacado por todos nós brasileiros e também pelo movimento negro como símbolo da luta antirracista porque durante muito tempo o Pelé esteve a serviço do mito da democracia racial, com o Brasil passando a imagem de que no país não existe racismo. O racismo sempre esteve presente em nosso país e nos últimos anos o Pelé foi capaz de reconhecer isso e dizer que este racismo também foi enfrentado por ele dentro de campo.
Embora tenha tido uma carreira incontestável dentro e fora dos campos, um fato importante envolvendo a paternidade da sua filha Sandra Regina Arantes do Nascimento, que precisou recorrer à Justiça para que o atleta assumisse a sua paternidade, ainda hoje é alvo de julgamentos de parte da população. Para Angélica Basthi (Jornalista, mestra em Comunicação e Cultura (UFRJ), fundadora da Cojira-Rio/ SJPMRJ e biógrafa) sentenciar o Pelé por um fato importante e grave sem saber o que de fato ocorreu mostra como o racismo se estabelece.
“Ele como um ser humano cometeu erros e equívocos, mas todos eles dentro do contexto da nossa humanidade. Mas nós que somos pretos neste país sabemos o quanto temos que nos esforçar duas, três, dez vezes mais para poder provar que nós também merecemos uma oportunidade então eu acredito que se o Pelé fosse um homem branco não teria sido tão cobrado como ele é cobrado até hoje. Mas isso não significa que ele não errou, ele errou sim, deveria ter reconhecido a filha de imediato. Ele recorreu 13 vezes na justiça para não reconhecer a filha, mas não sabemos o que o levou a agir desta maneira e nem o que aconteceu de fato entre o Pelé e a mãe da Sandra. Ele teve outra filha fora do casamento e não teve o menor problema em reconhecer”, destaca a jornalista.
Provando que era um craque também fora dos campos depois de se aposentar, Pelé foi nomeado Ministro do Esporte no primeiro governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, entre 1995 e 1998, quando criou a Lei Pelé que tinha a finalidade de oferecer mais transparência e trazer mais profissionalismo ao esporte nacional. A lei também criou verbas para o esporte olímpico e paralímpico e determinou a independência dos Tribunais de Justiça Desportiva.
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