Por: Maria Eduarda Abreu
O rádio completou 100 anos de transmissão no Brasil em setembro. Muitas transformações tecnológicas aconteceram nesse período e não faltaram teorias sobre o desaparecimento da radiotransmissão após o surgimento de cada nova invenção, primeiro a televisão seria sua sucessora, logo depois o computador foi o escolhido como substituto de ambos. Mas nada disso aconteceu.
Com o sucesso dos podcasts nos últimos anos, o rádio se renovou e ganhou novos adeptos. Uma geração que nasceu em um mundo totalmente digital para quem o rádio parecia algo muito distante voltou seus olhos e ouvidos para ele através de diferentes formatos de podcast. Foi pensando em aproximar ainda mais a geração Alpha desse meio de comunicação que o radialista Jorge Moreno criou a Academia Rádio Escola. Com a estrutura física da Foco &Diretriz o projeto saiu do mundo virtual e está em Copacabana.
O objetivo do projeto era reunir crianças e adolescentes que faziam parte de um grupo de amigos comunicadores do Rio de Janeiro para ajudá-los a desenvolver habilidades comunicativas. Segundo Luiz Moreno, antes da pandemia, o projeto não tinha pretensão de ser uma escola no sentido literal da palavra, foi a necessidade de ter um espaço físico para atividades presenciais após a pandemia que fez surgir a Academia Rádio Escola em seu formato atual.
Com a estrutura física, o projeto saiu do mundo virtual e agregou aos antigos alunos crianças e adolescentes de diferentes locais da cidade. Na Rádio Escola além de técnicas de locução e apresentação os estudantes aprendem uma série de habilidades dentro do universo do rádio como produção, edição de áudio, programação musical, produção de podcast e montagem de playlists em softwares similares aos utilizados pelas emissoras. O curso tem duração de 6 meses.
“Para estas crianças o rádio era algo que pertencia ao universo dos seus pais e avós, conhecer e poder fazer parte deste universo despertou curiosidade [das crianças] e a necessidade de ouvir também. Um dos primeiros exercícios inclusive é ouvir uma quantidade de emissoras, anotar o nome dos apresentadores, o estilo da emissora e uma sequência musical”, explica o coordenador do projeto.
A descoberta de um mundo novo
Durante o processo de aprendizado, as crianças participam da criação e produção de quadros e programas. É o caso do Jornalzinho, um projeto embrionário que pretende formar repórteres nas escolas públicas e particulares e trazer informações sobre estas escolas e o entorno. A ideia é que esse seja um quadro dentro do programa Lugar de Fala que aborda questões relacionadas à equidade, de raça e gênero, inclusão e diversidade.
Ao abrir a porta para as possibilidades dentro do rádio as crianças se deparam com um mundo de novas descobertas e cada uma escolhe um caminho para seguir. Ruth e Raquel Martins são irmãs gêmeas e aos 11 anos compartilham essa jornada no rádio por ângulos diferentes.
Rebeca Martins era muito tímida e as coisas começaram a mudar com os primeiros contatos com a Academia Rádio Escola. Além do comportamento, as notas em redação também se transformaram, ficando cada vez mais altas. Rebeca havia encontrado um novo vício: o rádio. Ela apresenta o programa Anime-se que fala sobre cultura pop e geek, além do Top Sugestões com o top 10 de músicas da EscolaFm.
“Sabe o que mais gosto? De mexer no painel de controle, é como se fosse um super poder de colocar os programas e músicas no ar. Sei fazer quase tudo na rádio, monto roteiro, subo pro painel e coloco no ar, com músicas, breaks, vinhetas e encerramento. É legal, me amarro”, conta a coordenadora mirim da Rádio Escola FM e aprendiz de DJ.
Para Ruth a experiência com a rádio é transformadora. Foi através dessa vivência que ela mudou a sua postura ao falar com as pessoas, aprendeu a cobrir eventos e defender as causas que acredita, como igualdade de gênero e raça, com mais clareza. “Me inscrevi na rádio porque vi alguns colegas meus e consegui entrar. Tio Moreno começou a me dar algumas instruções de locução e preparação de roteiro e hoje já preparo meus programas e passo para Rebecca. Minha locução melhorou muito e comecei a receber muitos elogios, o que me ajudou muito nos testes”, conta.
Ruth Martins já tinha experiência como entrevistada e como comentarista de rádio e demonstrou um grande interesse e paixão pelo por essa área, ficando responsável pela apresentação de quadros e programas. Já sua Rebeca se mostrou muito interessada pela parte técnica voltada para produção, programação e edição. Com habilidades distintas, mas compartilhando o amor pelo rádio ambas são coordenadoras mirins do projeto.
Segundo Jorge Moreno, a EscolaFm e a Academia Rádio Escola surgem de sua frustração com a falta de espaço na mídia, em especial no rádio, para as crianças expressarem suas ideias, opiniões e dores. Para ele, com a possibilidade de ter uma rádio própria, elas estão sendo preparadas para ocupar espaços em outras emissoras e inclusive produzir seu próprio conteúdo em podcast.
“Nosso sonho é ter a rede de comunicação feita para e por crianças e adolescentes no Brasil e em outros países de língua portuguesa, assim como ter a primeira emissora de rádio educativa em FM gerida por adolescentes aprendizes com conteúdo produzido por educadores, pais e estudantes. Uma rádio para transmitir conhecimento de forma divertida e criativa”, finaliza.
Programação da EscolaFm
A EscolaFm é uma rádio e podcast utilizada pela Academia Rádio Escola para vincular suas produções. Com uma programação diversa, ela possui 6 programas semanais. O Sarauzinho que traz conteúdos relacionados a música, literatura e histórias para a família, o Nossas crias é apresentado por Jô Milagres – mãe das gêmeas Ruth e Raquel – e conta sobre os desafios da maternidade, o Academia Rádio Escola é apresentado por Luiz Moreno e traz conteúdos sobre educação e comunicação. Além dos já mencionados Lugar de Fala apresentado por Ruth Martins e Anima-se e Top Sugestões apresentados por Rebeca Martins. Entre os podcasts estão o Girl Power sobre empoderamento feminino, o Sons de Wakanda com dicas culturais e notícias relacionadas a identidade afrobrasileira.
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