Por: Hellowa Correa
Os povos indígenas não têm um dia de paz no Brasil. Dificuldade para o enfrentamento da COVID-19, assassinatos de indigenista e jornalista, expulsão de líder da FUNAI de evento internacional… Como seguir cobrindo estas pautas sem pensar na própria segurança?
A Rede de Jornalistas Pretos conversou com o comunicador e líder indígena Walter Kumaruara. Walter lidera o Coletivo Jovem Tapajônico, organização que oferece capacitação e formação para lideranças do Baixo Tapajós. O jovem também é comunicador do projeto Saúde e Alegria. Do Fórum Social Pan Amazônico (28-31/7/2022), em Belém,ele responde alguns questionamentos sobre a situação do jornalismo na Amazônia.
O clima é de alerta. A partir destes últimos acontecimentos que vitimaram o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, mostrar a realidade pode ser fatal. Walter relatou que a FUNAI, como sinalizado pelo indigenista exilado no exterior Ricardo Rão, chega mesmo a renegar os povos originários. Não é possível qualquer colaboração com a instituição no momento. Kumaruara teve um papel fundamental no pico da COVID-19. Andava de barco pelos territórios levando kits e informação em saúde. O fundador do Coletivo Jovem Tapajônico avaliou que houve empecilhos para que se fizesse um trabalho digno para evitar o contágio. Ele contou que muita coisa foi feita e custeada pelas próprias comunidades indígenas e que a situação de desamparo não foi muito diferente do país como um todo. Foi necessário também um trabalho de combate às fake news que chegavam pelo celular.
Walter Kumaruara acredita que o marco temporal pode não ser interessante, já que nos encontramos em um ano eleitoral. Ele acredita que a estratégia é colocar mais indígenas no parlamento e se mostra esperançoso quanto ao futuro. “É possível ter esperança se reformularem a política.” encerra, o educomunicador do Saúde e Alegria.
A Rede JP também ouviu Kátia Brasil, a co-fundadora e editora executiva da agência de notícias independente Amazônia Real. A jornalista nos relatou que, com a situação da FUNAI não representar os indígenas, há um clima de extrema insegurança em diversos níveis e a falta de reconhecimento destes jornalistas e comunicadores por diversas instituições. Kátia nos contou que é preciso garantir o deslocamento destes profissionais tanto da cidade para as áreas de floresta como o destino contrário e que os jornalistas e comunicadores carecem de segurança para lidar com garimpeiros, madeireiros e outros exploradores das terras indígenas. Ela ressalta que, para o bem da circulação das notícias sobre a Amazônia, é imprescindível o combate à vulnerabilidade dos jornalistas.
Quanto à implementação do Marco Temporal, a editora da agência de notícias Amazônia Real, afirmou que o assunto se encontra fora da pauta neste momento. O Supremo Tribunal Federal está com a atenção voltada para o processo eleitoral. Um processo que já se apresenta bastante polarizado. Kátia Brasil acredita que o Marco Temporal deverá ser discutido no próximo ano. A jornalista declarou que será positivo que esta decisão seja discutida em um momento menos conturbado. Ela tem esperança que a nova gestão reestruturará a questão de maneira mais democrática.
A Rede de JP perguntou à Kátia Brasil sobre candidaturas femininas e indígenas como a de Sônia Guajajara para a Câmara Federal. “As mulheres precisam ocupar o Congresso Nacional, os governos. Serem chefes do Executivo.” respondeu a jornalista. Ela declarou que votará em uma mulher negra e feminista. A editora admitiu que apesar das mulheres representarem o maior número de eleitoras, isso ainda não se reflete no corpo político brasileiro. Ela finalizou destacando que há muito enfrentamento a ser feito quanto ao feminício, por exemplo. Uma questão de segurança pública no país que já possui bastante literatura indicando também como um problema de saúde pública.
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