Nesta semana, a Rede JP conversa sobre a atuação profissional e mercado de jornalismo com Lilian Ribeiro, repórter e apresentadora da Globo News e também com Isabel Ludgero, do Rio de Janeiro, assessora de Imprensa do Coletivo Pé na Porta e Alafiá Mundo, integrante da IURDTV – Grupo Record.
É possível observar, ao menos através dos ambientes virtuais de recrutamento e seleção, que no último ano cresceu o número de empresas que tendem a dar visibilidade para a contratação de pessoas não brancas. Além disso, está em andamento no Brasil neste momento, uma pesquisa que busca retratar o perfil da imprensa no nosso país. Dentro deste contexto, duas jornalistas de diferentes cargos e setores na comunicação compartilham suas experiências e visões a respeito dessa representatividade no mercado de trabalho.
Para Isabel Ludgero, o mercado de trabalho para jornalistas negros no Brasil ainda é excludente, assim como todo o mercado de trabalho para a população negra, pois os cargos de liderança e chefia nas empresas de comunicação são ocupados por homens brancos.
“Os homens negros ainda que tenham maior ou mesma qualificação profissional recebem salários inferiores ao dos brancos. Já para a mulher negra a situação é ainda pior, pois recebe, em sua maioria, o menor salário quando comparado aos brancos e homens negros. Apesar de alguns avanços na contratação de negros nos veículos de comunicação, ainda é muito pouco quando comparado ao número de profissionais negros existente no mercado de trabalho. Mas tenho esperança em ver cada vez mais apresentadoras, gestoras e pessoas negras em vagas de destaque e visibilidade social. Por isso, Isabel acredita que sua presença enquanto jornalista negra num veículo que é uma mídia tradicional tem uma importância maior como uma questão de representatividade apesar da mulher preta ser invisibilizada socialmente. “É importante valorizar cada mulher preta que contraria as estatísticas que comprovam que a mulher preta é maioria nos casos de violência doméstica, sexual, obstétrica, de baixa escolaridade, empregos sub humanos entre outros”.
Já de acordo com Lilian Ribeiro sobre o mercado de trabalho no Brasil, a perspectiva de uma representatividade na comunicação é bem importante para o desenvolvimento de mudanças mais intensas e mais breves neste cenário, mas também na ocupação de cargos em diferentes posições e não somente na tv.
“O que eu posso dizer é que nesses 15 anos em que atuo em redações, tenho visto mudanças acontecerem. Mas numa velocidade que precisa ser acelerada. No caso da televisão no Brasil, a presença negra é maior do que tínhamos há poucos anos. Somos mais do que já fomos, mas precisamos avançar na ocupação de diferentes espaços no mercado. A representatividade na tela é muito importante, é fundamental, mas não é tudo. Precisamos de profissionais negros nas mais diferentes frentes de trabalho da produção de conteúdo: produtores, editores. E também no comando das redações” – ressalta Lilian.
A contribuição dos jornalistas da diáspora africana é um fator que vai muito além das riquezas e das influências culturais, da arte, da dança e da gastronomia, que são também importantes, para Isabel. Ela acredita que profissionais de jornalismo ao redor do mundo podem ajudar os jornalistas brasileiros na busca por uma comunicação mais representativa através de união, conscientização e valorização da ancestralidade com respeito à cultura e as características de cada localidade e que com essa integração podem ser realizadas ações afirmativas, cotas em universidades, empresas, geração de oportunidades em cargos de gerência, cursos, capacitação profissional, intercâmbio, além de toda uma estratégia de ensino que busca reparar e diminuir a ausência de pretos nas empresas de comunicação. “Na atualidade acredito que nossos irmãos podem nos ajudar na busca por estratégias no combate ao racismo e na luta por uma comunicação antirracista, com base no histórico de luta e resistência dos afrodescendentes e, principalmente, na força dos nossos ancestrais. O jornalismo exerce um papel primordial na repercussão dos fatos e no comportamento da população. Essa importância fica clara quando acompanhamos as manifestações pelo mundo como o movimento ‘Black Lives Matter’, a luta contra o racismo, a política dentro e fora do Brasil e a pandemia da Covid 19. São acontecimentos grandiosos que se tornaram conhecidos mundialmente devido às tecnologias e ao jornalismo cada vez mais atual” – finaliza Ludgero.
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