O Brasil tem uma população de 56,4% de negros e apesar
de representar a maior população negra fora de África -a
segunda maior do planeta- os números não são traduzidos
em produção jornalística, muito menos nos meios de
comunicação e empresas do país. O inquérito da
Federação Nacional de Jornalistas (o instituto responsável
pela defesa dos direitos dos profissionais no país) mostrou
que 72% dos jornalistas no Brasil são brancos.
A sondagem aponta também que apenas 5% dos
jornalistas são negros e 18% são pardos.
A falta de espaço no mercado de trabalho não é o único
problema causado pela falta de diversidade na
comunicação brasileira. Ainda sofrendo os impactos das
desigualdades históricas produzidas durante quatro
séculos de escravatura no Brasil e sem investimento
público, esta população tem habitações mais precárias,
baixos níveis de educação, o maior número de
desempregados e poucos espaços de decisão na sociedade.
Por esta razão, a narrativa jornalística no país reproduz
esta desigualdade, não representando nem dialogando
com as mais diferentes camadas sociais e raciais,
causando também efeitos políticos, económicos e sociais.
Vivemos atualmente numa pandemia e o crescimento de
notícias falsas combinado com o desempenho do atual
governo torna-o ainda mais difícil para todos os
jornalistas. Ameaças, mentiras, descrédito, restrição da
liberdade de imprensa e até ataques físicos são relatados
por profissionais de todo o país. Hoje, os nossos
problemas aprofundaram-se devido à situação atual.
Buscando refletir sobre o silenciamento das nossas vozes,
criámos o Jornalistas Pretos-Rede de Jornalistas pela
Diversidade, no qual procuramos oferecer apoio mútuo,
trabalho de representação e qualificação para profissionais
desempregados, recém-formados e estudantes de
jornalismo e, obviamente, a cooperação entre a nossa
organização brasileira e o Caucus Panafricano do
Journalistas vai ser uma grande jornada tão importante
quanto a chegada.
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